Caros Leitores.
Dia desses, estávamos com nosso amigo, Wilson Vieira, para os mais chegados, o “Cheiro”, amigo de longos anos, lá atrás, de nossa juventude, em seu escritório, loja de automóveis, “Wilson Automóveis”, conversando. Vários assuntos vieram à tona. O principal deles, era sobre o homem. Suas reações; suas atitudes; suas bondades; suas maldades; seu pontecial para tudo; sua humildade para com seus semelhantes; sua arrogância; sua prepotência; sua altivez; sua perseverança; sua tolerância; sua paciência, enfim, comentávamos tudo e todas as atitudes que o homem tem, possui, desfruta, toma, exerce no decorrer de sua vida.
Comentávamos quanto a crimes praticados não só em Araguari, mas em todo o mundo. Falávamos também quanto ao poder que o homem tem para resolver tudo aquilo que se lhe apresenta.
Em certo momento de nossa conversa, o Wilson disse: Peron, certos acontecimentos ficam gravados em nossa memória e não se apagam mais. Continuando disse: lembra-se da fazenda do meu pai (o saudoso João Vieira da Costa), ficava ali na descida para o hoje Pica Pau, lado direito de quem vai para o clube ? Aquela bela e grande casa que era a sede da mesma ? Isto no fim da década de 50, início da de 60, quando o Pica Pau era apenas um “poço” onde nadávamos com a autorização do confrontante do meu pai, senhor Ernesto Golia ?
Claro, lógico, evidente. Nossa resposta foi positiva. Como nos lembramos de tão belos e significativos tempos.
Pois é, disse o Wilson. Lá naquela fazenda, meu pai, no final de cada dia de trabalho, reunia a família na grande cozinha com fogão de lenha, e no calor do ambiente contava-nos histórias com um fundo filosófico fantástico, sendo que na época não entendíamos direito, mas com o passar dos anos, íamos até aplicando aquela sabedoria na criação de nossa família.
Certa noite, continuou ele, meu pai contou a história do “Bicho Homem”.
Curiosos, pedimos a ele que nos contasse a mesma.
Atendendo-nos começou:
Em uma mata, viviam vários animais.
Quando os mesmos estavam reunidos após terem saboreado cada um o seu jantar, a Onça, toda eriçada, rugiu e bradou em alta voz: Sou o mais forte e temido animal destas matas. Comigo ninguém pode. Quem quiser arriscar que me enfrente. Rugiu novamente, brandiu os dentes e ficou aguardando algum animal que a enfrentasse.
Nisto, surgiu lá do fundo um Macaco, todo faceiro, fazendo suas graças e rindo da Onça e ao mesmo tempo dizendo: Você não é de nada, não tem valentia nenhuma, perde toda sua coragem perto do “Bicho Homem”.
Mas quem é o “Bicho Homem”, perguntou a Onça. Onde ele se encontra. Quero na sua frente dar uma boa lição nele. Quero mostrar que nestas matas quem manda sou eu. Que venha o “Bicho Homem”.
O macaco, mais uma vez, debochando da Onça, respondeu: deixa de bobagem Onça. Quando você conhecer “O Bicho Homem”, tenho certeza que nunca mais irá zombar dele. Passará a respeitá-lo e até a servi-lo em sua vida.
A Onça já não agüentava mais tanta ousadia e acabou desafiando o Macaco a lhe mostrar “O Bicho Homem”.
Venha até a estrada que vou lhe mostrar quem vem a ser “O Bicho Homem”, disse o Macaco à Onça bastante nervosa.
Lá foram eles até a estrada que passava na mata.
Após algum tempo que lá estavam, apareceu uma criança. Caminhava toda alegre e inocente, cantando e chutando pedras no caminho.
A Onça toda valente disse: aquilo ali que é “O Bicho Homem ?”.
Respondeu o Macaco em tom sarcástico: não Onça, aquilo ali não é ainda “O Bicho Homem”, mas daqui uns anos o será. Está no caminho para sê-lo.
A Onça cansou de esperar por outro andarilho na estrada e se deitou, depositando a cabeça entre as patas, esperando pelo “Bicho Homem”.
Surge então na estrada, um velho, com um saco nas costas, uma bengala, arqueado pelo tempo, caminhando com dificuldade e devagar.
Bradou a Onça com desprezo: este é “O Bicho Homem” que você disse irá me desbancar ?
Respondeu o Macaco todo faceiro: calma Onça, este já foi “O Bicho Homem”. Hoje ele é apenas um ser no final de sua existência. Já cumpriu com sua missão na vida.
A Onça já estava para vir embora, zombando do Macaco, dizendo não existir o tal de “Bicho Homem” e ele mandar em todo o mato da região, quando surge na estrada um homem de seus 30 anos, todo firme, forte, passos largos, espingarda presa às costas, demonstrando ser um elemento disposto a enfrentar de tudo que lhe aparecesse.
O Macaco então, disse à Onça que já estava meio surpresa com o quadro que via: olha lá Onça, aquele lá, é “O Bicho Homem !”.
A Onça, meio sem graça, porém com toda sua valentia, disse ao Macaco: ora só, aquilo ali que é “O Bicho Homem ?”. Deixa comigo que vou lá dar-lhe uma lição e mostrar quem manda aqui.
Nisto, saiu correndo rugindo rumo ao “Bicho Homem”, mostrando-lhe os dentes afiados, pronta para dar o bote, estraçalhando com o mesmo, quando este, sacou da espingarda, apontou em direção a Onça e sem vacilar, deu um tiro, acertando no “traseiro” da Onça.
Esta então, assustada e envergonhada pelo fato de seu rompante e coragem não ter intimidado “O Bicho Homem”, ainda por cima ter sido ferido pelo mesmo, em uma prova incontestável que realmente “O Bicho Homem” é o rei dos animais, voltou todo sem graça para o Macaco que ria às pampas do acontecido sendo que o mesmo lhe perguntou: viu agora Onça, quem é “O Bicho Homem?”. Viu quem manda em tudo aqui ? Viu que com ele ninguém pode ? Conhece agora seu lugar ?
A Onça, toda envergonhada com o acontecido, disse ao Macaco: você tem toda razão, “O Bicho Homem” é mesmo violento. Ele é o Rei dos Animais. Com ele ninguém pode. Desculpe o meu erro.
O Macaco e a Onça, voltaram então para dentro da mata, reuniram-se com os demais animais, contaram o acontecido e passaram a respeitar definitivamente ao “Bicho Homem”, como o “animal” mais valente de todos.
“O Bicho Homem”.
“O Rei dos Animais”.
Com estas palavras, Wilson encerrou com lágrimas nos olhos, uma velha história contada pelo seu pai, em tempos idos, que contém um fundo filosófico imenso, podendo nós tirarmos a lição que quisermos, uma vez analisarmos cada um dos acontecimentos de nosso cotidiano, com as atitudes tomadas pelo Rei dos Animais, “O Bicho Homem”.
Apesar de sermos “Animais Racionais”, tomamos atitudes completamente “Irracionais”, levando a humanidade a guerras, corrupções, conflitos, terrorismos, fanatismos, com a ânsia pelo poder, a destruição do meio ambiente, com finais trágicos, enfim, a conseqüências que nem os “Irracionais” provocam, pois seus princípios são os de manter a sobrevivência com a parceira e sua prole. As lutas só ocorrem para a defesa dos mesmos.
Era o que tínhamos.
Que Deus nos abençoe.
Um abraço.
Um comentário:
Peron
Belíssima história, realmente o "bicho homem" é o pior entre todos os animais, pois mata por divertimento e por sentimentos baixos de orgulho, egoísmo e covardia.
Se aprendessemos só um pouquinho com os irracionais seríamos muito mais felizes.
Abraços!
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