Caros Leitores,
Em uma roda de amigos que estávamos o teor da conversa era a dos “aluguéis inflacionados” que estão imperando em nossa cidade atualmente.
De um lado um dizia: vocês não hão de ver que aluguei aquele casarão velho que tenho por R$700,00 mensais? O outro respondia: ora, também pudera com a procura maior que a oferta, lógico e evidente que qualquer casinha em fundo de quintal se aluga por R$300,00 por mês. De pronto, um terceiro membro levanta a tese da implantação da UNIPAC e UNITRI em Araguari como causadoras desta inflação galopante nos aluguéis de imóveis na cidade. Pelo fato de sermos fundadores e administradores da primeira imobiliária existente em Araguari, nos questionaram a respeito: Peron, o que você tem a dizer sobre essas explorações para com os locatários, as pessoas que de fora aqui estão em busca do saber, estudantes de distantes plagas em nossa cidade, enfrentando a saga dos proprietários de imóveis de aluguel? Enfrentando esta fome de cobrar caro naquilo que possuem, não respeitando e nem tendo consideração com ninguém?
Com calma, procuramos dar uma resposta à altura das pessoas que compunham a roda de amigos, e, ao mesmo tempo, ter deles a consciência de colaboração, para em contatos com terceiros, deles solicitassem compreensão e aquiescência para locações mais viáveis e ao mesmo tempo que correspondessem aos imóveis de suas propriedades.
Iniciamos aí nossa resposta voltando no tempo. Fomos parar lá em 1976, mais precisamente no dia 7 de julho, quando juntamente com o Dr. Ivan Cavalcanti Canut e Joaquim Marques Póvoa, o Povinha (ex-vereador por duas legislaturas), fundamos a primeira imobiliária de compra e venda de imóveis e também e principalmente, administradora de aluguéis.
Podemos dizer, sermos os pioneiros em administrações imobiliárias de Araguari, pois, as duas que iniciaram na gestão dos negócios, não levaram avante a rentável porém árdua missão de gerir propriedades alheias, de terceiros. Éramos, como os atuais o são, os sacos de pancadas de inquilinos revoltados e de proprietários insatisfeitos com as rendas obtidas. As duas que nos antecederam foram, a “ABC” – Administrações Imobiliárias, que ficava ali na rua Dr. Afrânio, onde hoje funciona a Sapataria do Totó, de propriedade do Wagner Mota. A outra, na Praça Manoel Bonito, onde hoje funciona o Bar do Japão. Chamava-se “Seta” e era de propriedade do filho do Tenente Expedito Ferreira dos Santos, o saudoso Dr. Weber Ferreira dos Santos, recebendo assistência jurídica do Dr. Ronan Acácio Jacó, hoje Desembargador aposentado, em Brasília. Ambas funcionaram por pouco tempo. Seus proprietários foram tratar de outros negócios, encerrando assim suas atividades. Foi quando nós surgimos no mercado.
Desta reunião acima citada, surgiu então a primeira imobiliária de Araguari, a qual fazemos menção neste espaço, por uma questão de ética e alegria, pelo fato da mesma estar no mercado como pioneira e genitora das demais que posteriormente surgiram. Todas, sem exceção, tem um vínculo com a pioneira. O nome que demos originariamente foi de “Método Araguarina de Imóveis e Administrações Ltda”.
Abrimos as portas na rua Marciano Santos, logo acima da Farmácia São Sebastião, indo posteriormente para onde hoje funciona o Laboratório de Análises Clínicas Pio XII, sendo que pouco tempo depois adquirimos o imóvel abaixo do Banco Real, na Marciano Santos, e, em virtude de dissolução de sociedade, fomos encerrar nossas atividades em 1982, na rua Rui Barbosa, esquina com a Pedro Nasciutti.
Como dissemos, orgulhosos somos de sermos os pioneiros e a empresa por nós fundada, estar em pleno gozo da confiança do povo araguarino. Em atividades totais.
Agora chegamos onde queríamos. Aluguéis inflacionados.
Quando abrimos nossa imobiliária, era tudo novidade. Ninguém necessitava de ninguém para gerir seus negócios. Ora, alugar uma casa, receber o aluguel era coisa à toa. Para que pagar por isso? Devagar o povo foi se acostumando com a idéia, foi vendo que só receber o aluguel era bem mais fácil, ter o dia certo para isto, ter quem resolvesse seus problemas era bem melhor, fez com que o negócio “pegasse”, e a confiança em nós foi total.
Paralelo a tudo, acontecia na cidade, outro fato inédito, assim como são as universidades com seus milhares de alunos de todos os cantos de nosso Brasil e até exterior.
Era a construção da Usina de Emborcação. As obras tiveram seus inícios, e com isto, Gutierrez, Siemens, Techint, Nativa e tantas outras construtoras para cá vieram trabalhar nas obras encabeçadas pela Gutierrez e de responsabilidade da CEMIG.
Assim sendo, a procura de imóveis para locação foi imensa. Mais de oito mil pessoas trabalharam em conjunto no pique da obra, e, haja casa para abrigar tanta gente.
No mercado apenas nossa imobiliária, e, as empresas então nos contrataram de imediato, deixando especificado aquilo que necessitavam. Casas para engenheiros com padrão mais elevado. De chefes com um padrão menos luxuoso, de encarregado mais simples e assim por diante, até chegar nos peões, aqueles que realmente pegavam no pesado.
Colocávamos no rádio o aviso que necessitávamos de 300 casas padrão “A”, 400 padrão “B”, 800 padrão “C”, com aluguéis garantidos e locações imediatas. Em nossos escritórios apareciam pessoas várias, umas dizendo, estamos mudando para a casinha do quintal para alugar a que moramos, pois vale a pena. Outras falavam que iam morar com os pais enquanto durassem as obras, garantindo assim uma renda extra e bem vinda. Outros construíram casinhas nos quintais para alugar. Foi uma coisa fantástica e quem viveu à época pode confirmar tudo que narramos.
Aí, aí caros Leitores, claro, lógico, evidente, os aluguéis inflacionaram. Como inflacionaram. Vocês não queiram imaginar a luta que tínhamos para mostrar aos proprietários de imóveis que era necessário manter um padrão de aluguel, que tudo era passageiro, que as pessoas de fora mereciam um tratamento melhor, as empresas não podiam ser exploradas como estavam sendo. Mas tudo foi em vão. A procura era maior que a oferta. Sendo assim, quem tinha não abria mão de um belo aluguel.
O tempo foi passando, passando e finalmente veio o troco. Troco este que beneficiou Araguari de uma forma fantástica. Fez nossa terra crescer, desenvolver. A Gutierrez resolveu então construir casas para seus funcionários. Assim o fez.
Lá no Santa Helena, construiu a vila para seus operários. Casas mais simples e que abrigava a grande quantidade de peões que possuíam. Passou assim a oferecer a eles, morarem em uma região só, fácil para o transporte até à obra, até a Usina em construção.
Paralelamente, construiu casas de padrão mais elevado na saída de Uberlândia, lado direito da Joaquim Barbosa. Lá foram instalados, chefes, encarregados, técnicos, pessoal burocrático e escritórios gerais da empresa.
Foi uma pancada nos aluguéis em vigor na ocasião. As casas então locadas e das quais cansamos de avisar aos proprietários que tudo era passageiro, começaram a serem liberadas, devolvidas à nossa administração, ficando vazias pelo fato da procura ter diminuído. Pronto, mais um caos a enfrentar, pois os proprietários não esperavam por aquilo. Aconteceu.
Assim começaram os casais que mudaram para as casas dos pais, a voltarem para suas casas. Os que mudaram para as casinhas dos quintais retornavam à sua moradia. Os aluguéis foram voltando ao normal, a se estabilizarem, e a realidade voltou a imperar.
Com o término das obras, com a Usina de Emborcação em pleno funcionamento, as empresas que nas obras trabalharam indo embora, Araguari voltou a ter a vida que tinha antes.
Chegamos então ao local em que podemos dar nossa resposta. Ei-la: as universidades aqui implantadas, estão trazendo estudantes, como dissemos, de todas as plagas para aqui adquirirem seus conhecimentos. O povo, através das imobiliárias, está locando seus imóveis caríssimos aos estudantes. Sabemos de verdadeiras aberrações locatícias. Sentimos vergonha disto, pois sabemos qual será o final. Os estudantes, seus pais, a tudo tem que se sujeitarem. A cidade não estava preparada. De repente, o que aconteceu lá atrás, torna a acontecer. Vamos aproveitar então, é o que passa na cabeça de todos. E assim está sendo feito.
Por outro lado, existem os que estão com os pés no chão. Grandes e pequenos empresários, proprietários vários, passaram a construir flats, pequenos apartamentos, quartos conjugados com banheiros, locais para rapazes, locais para moças, e, assim, devagar as coisas vão caindo em seus lugares. Quando acordarem, os cursos estarão com os anos completos, ou seja, a quantidade de alunos permanecerá inalterada, pois os que estiverem se formando estarão dando seus lugares aos que estiverem chegando, proporcionando assim o que não acontece hoje, estabilidade nos valores cobrados nos aluguéis.
Teremos então uma deflação. Queiram ou não ela virá. Já o veio antes. Temos experiências suficientes para afirmamos isto.
Araguari voltará a ter sua vida normal, assim como as tem as cidades que possuem universidades.
Tudo não passa de acontecimentos em conseqüência do progresso, e, que em um futuro próximo se estabilizará.
Era o que tínhamos.
Que Deus nos abençoe.
Um abraço.
quinta-feira, novembro 23, 2006
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Um comentário:
Peron,
Que tal uma matéria sobre a feira de Araguari? Acho que faz parte da tradição da cidade, e tem muita coisa interessante lá.
Um abraço
Peter
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