Caros Leitores.
Resolvemos para nesta edição de encerramento do ano, edição especial do Botija Parda, fazermos uma homenagem especial, a um amigo de tempos idos, amigo da década de 50, mais precisamente 1958, amizade esta que durou 48 anos, quase meio século, mas, cujos frutos, irão se perpetuar. Se perpetuarão pelo fato de nossos filhos, Fernando e Kelly, terem contraído núpcias em outubro de 2004, o que transformou, a amizade existente em parentesco, onde irão tornar a ambos, avós que seremos, e, tios, nossos demais filhos, da nova geração que surgirá deste enlace, constituindo assim mais uma família.
Por que nossas amizades duraram apenas 48 anos?
Porque quis o Senhor, que Juraci nos deixasse no dia 23 de setembro de 2006, justamente quando se preparava para uma cirurgia de um mal que o afligiu, e, que com ela, voltaria a ter a vida normal e disposta para enfrentar seus empreendimentos profissionais. Achou por bem o Criador, levá-lo para junto Dele, deixando que seus descendentes, dessem continuidade em suas atividades aqui na terra. A sua missão estava cumprida.
Como nasceu e foi cultivada nossa amizade?
Nos tempos idos, década de 50, mais precisamente em 1958, estávamos ávidos em adquirirmos uma motocicleta Vespa, 125 cilindradas, que iria nos proporcionar lazer, e, ao mesmo tempo, seria nosso meio de transporte, uma vez não termos na época nossos 18 anos de idade, e, logicamente não podermos dirigir carros, apesar de já o sabermos de longa dada. O vendedor da referida moto, foi o então ouríveres e nosso amigo, João Resende de Souza o João Côco.
Sua oficina de ourivesaria ficava ali na Praça Getúlio Vargas, local que a mesma, até hoje ainda funciona com outro profissional. João Côco hoje é um senhor tranqüilo, aposentado e com suas indústrias de aço inox, sob a administração de seus filhos. O João vem a ser primo do Juraci, família de Indianópolis, de onde são naturais, e, conhecidos pelo apelido “Dos Cocos”.
Dirigimo-nos então até a oficina para tratarmos do negócio, e lá encontramos aprendendo o ofício de ouríveres, os jovens, Juraci José de Souza, juntamente com o hoje empresário Lairton Montes Pinto, proprietário da Joiarte Ótica. Foi o início de longas e sinceras amizades.
Nosso relacionamento com Juraci se estreitou, pois das idas à oficina do João, os três, João, Juraci e Lairton, juntamente conosco, fazíamos nossos planos e já vivíamos a juventude que se deslumbrava diante de nossos olhos.
Chegou 1961, e a turma de 1942, foi convocada para o Serviço Militar, na época, no Tiro de Guerra n° 57, sob o comando dos Sargentos Pedro e Pereira. Mais de 150 jovens se apresentaram e no decorrer do ano receberam as instruções militares. Lá estávamos nós, e, levados pelo destino, sempre em contato direto, apesar de pertencermos a turmas diferentes.
Quando da baixa, no final do ano, nossa comemoração, como das demais turmas, foi na Praça Manoel Bonito, na antiga e saudosa fonte, com o banho da alegria. Fotografias tiradas na época, mostram que tínhamos que ser parentes, pois em todas, estávamos juntos, presentes. Era um pressentimento de um futuro familiar. É o que acontece hoje.
Mas, vamos aqui, referirmos exclusivamente ao Juraci.
Ele nasceu em 25 de dezembro de 1942. Em Indianópolis.
Filho de Manoel Lemes de Souza e de Ruthe Goulart de Souza, proprietários da Fazenda Cocal (a origem da alcunha).
Veio para Araguari ainda criança, juntamente com os pais e seus irmãos, indo morar nas proximidades aqui da Sociedade São Vicente de Paula. Local onde se tornaram conhecidos em Araguari.
Juraci, o segundo de seis irmãos, iniciou sua vida profissional como engraxate, passando por vários serviços, dentre eles, ajudante de caminhão, quando foi aprender a profissão de ouríveres, incentivado pelo primo João Côco. Virou profissional no ramo, porém as atividades não lhe atraíram a vontade de nela permanecer.
Assim em 1960, com seu irmão Jurandir, foram trabalhar em São Simão, divisa com Goiás, em um posto de gasolina de propriedade de um tio. Neste posto encontraram seus ideais. Gostaram do negócio, tanto Juraci, como Jurandir.
Retornaram então para Araguari, e, com a reserva financeira que conseguiram angariar, adquiriram da família Barbosa, o Posto Brasília, na Av. Senador Melo Viana, em 1962.
Dado a juventude reinante em ambos, o grande relacionamento existente com os fazendeiros da região de Piracaíba, o movimento do posto foi aumentando gradativamente, chegando ao sucesso total. Todos na cidade procuravam o Posto Brasília, tanto para abastecimento, lavagem e lubrificação dos veículos, como para um encontro amigo com os irmãos Souza, Juraci e Jurandir.
As estradas não eram asfaltadas. O progresso estava chegando com a construção de Brasília. A BR-050 foi traçada para passar por Araguari, sendo construída no decorrer dos anos.
De vistas voltadas para o futuro, os irmãos Souza, adquiriram uma área na beira da rodovia que levava a Brasília e construíram o Posto Brasileirão. Isto ocorreu em 1973. Enxergaram o futuro no presente.
Juraci, sentindo firmeza em tudo que realizava, resolveu constituir família, e, em 1968, casou-se com Maria Elizabeth, de cujo enlace vieram os filhos Willian, Frederico, Kelly (nossa nora) e Karla. Na luta pela vida, criou a família dentro dos princípios religiosos, proporcionando a todos inclusive a formação em cursos superiores.
Maria Elizabeth vem a ser filha do casal Sinfrônio Monteiro de Oliveira e da senhora Laura Cunha. Famílias fazendeiras e do trabalho e que em muito ajudaram a construir nossa terra.
Como dissemos, com a construção do Brasileirão em 1973 e com o progresso em conseqüência da transferência da velha capital para a nova, erguida sob a garra de Juscelino Kubstichek de Oliveira, cresceu junto, o já tradicional e concorrido Posto Brasileirão.
Nas décadas de 70, 80 e 90, locais de festas eram raros em Araguari. Sendo assim, resolveram os Souza, dotar o Brasileirão de um buffet completo, promovendo festas tanto em suas suntuosas instalações, como também atendendo os grandes eventos nos locais onde os mesmos se realizavam. Casamentos, batizados, noivados, formaturas, convenções eles sempre promoveram. O Brasileirão era o ponto de encontro da família araguarina. Nos fins de tardes, sob a varanda irrigada para o refresco do sol que caia em seus últimos raios, a juventude (inclusive nós) desfrutávamos de um chopp gelado, acompanhado de peixe frito e carne assada, além de outros petiscos mais, indo até pelas 21 horas, quando todos desciam para seus lares. O pessoal das mesas se entrelaçavam. As amizades reinavam na época. Todos queriam conversar com todos. Lembramo-nos ainda das presenças do senhor Nicolino Caetano e sua esposa, dona Odília, dona Lica para os mais íntimos, assim como dos filhos, Ricardo, Reinaldo, João, do Galeno Araújo com o Ivan Canut, do meu amigo saudoso Cairo Rocha e seus familiares, da família Alamy, dos Rodrigues da Cunha, do pessoal dos bancos que para lá se dirigiam em datas comemorativas, assim do comércio e indústria em geral. Como se fosse hoje, lembramo-nos do casamento da filha de nosso amigo, José Vandico Veloso e de Marlene Rodrigues da Cunha, a Tânia, nossa afilhada, com o Ricardo Daher, nas dependências do restaurante do posto. Foi um acontecimento que reuniu toda a família araguarina.
Com a construção de Usina de Emborcação pela CEMIG, o Posto Brasileirão, foi a referência para todas as empresas, construtoras e funcionários que por ela passaram. Em muito o mesmo colaborou direta e indiretamente para a conclusão desta hidroelétrica que mudou os destinos de Araguari.
Mas o progresso vinha dia a dia. Os irmãos Souza não podiam ficar para trás. Tinham que acompanhá-lo. E assim o fizeram. A medida que o tempo passava e o movimento aumentava, eles iam adaptando o posto para receber os viajantes e araguarinos que dele faziam uso. Ampliações eram constantes, porém, era imprevisível o desenvolvimento de Brasília, e, aumentavam e modernizavam a medida das necessidades.
O restaurante de “A La Cart”, teve que passar para “Self-Service”, atendendo hoje, mais de 400 refeições dia, chegando a 600 em dias de feriado. O Brasil inteiro conhece suas instalações. Fazem dele o ponto de parada para um descanso e uma boa alimentação, tanto no restaurante como na lanchonete.
Foram construídos novos sanitários, modernos, aromáticos, com capacidade de atender lotações de ônibus tanto de carreira, como de turismo que ali passam, simultaneamente, proporcionando agilidade e comodidade para os passageiros. Nestes sanitários, existe um confortável fraldário para que mães banhem e troquem seus filhos no decorrer das viagens. Instalações de vasos sanitários próprios e higienizados exclusivamente para crianças foram feitas. Enfim, todo o cuidado e esmero para o conforto dos viajantes foram efetuados, atualizando assim as instalações para maior conforto e melhor atendimento.
Com as exigências governamentais para funcionamento de postos de gasolina, o Brasileirão está passando por uma modificação geral, adaptando-se com as novas normas. Com isto, suas instalações, além de ampliadas, estão sendo construídas dentro da mais nova técnica existente no ramo de combustíveis.
Recentemente, antes das reformas e ampliações que estão sendo realizadas no Brasileirão, motivos particulares, alheios a vontade dos irmãos Souza, fez com que a longa e profícua sociedade fosse extinta. Cada família teve a necessidade de gerir seus destinos. Assim, Jurandir José de Souza ficou com o Posto Brasília, início da longa jornada, e, Juraci José de Souza, permaneceu com seus familiares no Posto Brasileirão. Foi uma dissolução de sociedade tranqüila e que uniu ainda mais os irmãos. Coisas que o destino reserva e pelas quais temos que passar. Aconteceu, e, quem ganhou com tudo isto foi Araguari.
O Posto Brasileirão, funciona ininterruptamente. São três turnos de trabalho. Cem funcionários proporcionam bom atendimento e agilidade aos viajantes que por ele passam.
Mas o destino gosta de pregar peças. Pregou mais uma.
Quando o Juraci se preparava para uma cirurgia, gozando de boa saúde, sofreu um mal súbito fazendo sua caminhada diária, e próximo à sua residência. Ainda procurou ajuda em uma farmácia. Era tarde. O Supremo Criador dos Mundos o havia chamado para seu convívio.
Juraci partiu repentinamente. Pegou a todos de surpresa. Não avisou ninguém que estava para ir embora. O foi. Não disse adeus para ninguém. Assim como viveu, sem chamar atenção, displicentemente, também foi embora deste mundo. Sem alarde, discretamente.
Em 23 de setembro de 2006, ele partiu. Iria completar 64 anos dia 25 de dezembro. Quis o Criador que esta data fosse comemorada em seu convívio, lá no Céu. Com certeza eles fizeram uma grande festa. Juraci gostava de administrá-las. Deve ter sido muito grande, pois grande é o número de amigos nossos que se encontram no convívio de Deus.
Juraci foi um homem humilde, sincero, perseverante, sério, honesto, digno, trabalhador, excelente chefe de família, bom patrão, caridoso e compreensivo. Deixou uma grande herança moral a seus familiares.
A família, a família aqui está. Unida, forte, enfrentando as adversidades que ficaram e que irão surgir. São coesos.
Maria Elizabeth, a esposa querida, passou a administrar o Brasileirão. Seus filhos, Willian, casado com Sílvia Maria, filha do Ernani Figueiredo (do Banco do Brasil), como Frederico, o Fred, receberam suas missões na regência deste que é o maior Posto de Gasolina e de Serviços Gerais às margens da BR-050, e que tornou nossa cidade conhecida no Brasil através de seu lema: Araguari, a rota mais curta para Brasília. Kelly, esposa de nosso filho Fernando, vem a ser Procuradora do Estado de Goiás, onde residem. Karla, pedagoga, presta serviços voluntários em entidades de caridade, e participa do Coral da Paróquia de São José Operário.
E assim, a vida continua o seu trajeto. Normal para os que se encontram sem problemas. Complicadas para aqueles que se encontram com alguma coisa pendente. Alegre para os que a entendem e procuram se adaptar às adversidades que lhes surgem pela frente.
Caros Leitores, tenham todos, um Feliz e Próspero Ano Novo.
Era o que tínhamos.
Que Deus nos abençoe.
Um abraço.
quinta-feira, dezembro 28, 2006
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