sábado, novembro 10, 2007

CÂNCER

Caros Leitores.

Retornando às atividades jornalísticas, após longo período de tratamento de saúde, estamos novamente em contato direto com vocês, enquanto no lapso de tempo ausente, nosso filho Julio, gerenciou o nosso blog, mantendo-os a par de nossa Araguari, com matérias antigas, já publicadas em jornais, porém saudosistas e alegres a respeito de nossa querida terra.

Em outubro de 2006, começamos a sentir um mal estar nas pernas, inquietas, cansadas e que não nos deixavam dormir.
Após várias consultas e exames, descobrimos que estávamos com a Síndrome das Pernas Inquietas. Provocada principalmente por falta de ferro no organismo.
Entramos em tratamento, porém, o mal continuou, e após mais exames, foi constatada uma úlcera em nosso estômago já operado há 32 anos atrás.
Veio então a biopse.

Notícia trágica, avassaladora, deprimente, como se fosse um tiro certeiro em nosso coração.
Foi constatado na biopse, um tumor maligno no que restou de nosso estômago.
Recebemos a notícia com calma, maturidade de uma vivência de 64 anos, tendo neste período, convivido com amigos que ficaram doentes, partiram para a eternidade, outros sobreviveram, e, agora estávamos nós, ali enfrentando o quadro doloroso e triste.

A conselho de nosso médico, fomos para um centro maior e de maiores recursos para o tratamento. Fomos para Goiânia. Lá temos um sobrinho médico, Dr. Sidney Ribeiro Resende, Gastro e Proctologista, que nos encaminhou para uma especialista, que por sinal vem a ser prima da família dos “Irmãos Naves”. Dra. Fátima Mrue, Oncologista e sua equipe.
Nosso filho Fernando, com nossa nora Kelly, nos levaram, a nós e nossa esposa Terezinha, para a capital goiana, no dia 1° de abril de 2007, quando nos internamos no dia 02 de abril, ou seja, dia seguinte. Hospital e Maternidade Jardim América.

Internados, passamos a receber alimentação para nutrição, uma vez estarmos completamente tomado por uma anemia profunda, em virtude de nosso estômago não aceitar mais alimentação, tomado pelo maligno tumor.
Afinal, no dia 14 de abril fomos operados.
Permanecemos no hospital por mais 13 dias, sendo liberado em 27 do mês corrente.

Fomos então para o apartamento de nosso filho Fernando e sua esposa Kelly, que em Goiânia residem.
De imediato começaram os tratamentos por Radioterapia e Quimioterapia. Foram 25 aplicações de Radio e 6 de Químio. Um longo e doloroso tratamento. Agressivo ao máximo, efeitos colaterais vários, sendo o paliativo do mesmo o atendimento feito pela equipe de médicos e enfermeiras altamente especializados para tal finalidade.

Foram mais três meses de tratamento intensivo.
Os caros Leitores devem estar se perguntando: que displicência a do Peron, está narrando tudo com uma naturalidade tremenda.
É como se não fosse com ele.
Ao contrário caros e diletos amigos.

Quando soubemos da notícia da doença ainda aqui em Araguari, foi como se caíssemos em um poço com o fundo cheio de água enlameada. Não enxergávamos nada, tudo embaçado. Não conseguíamos ver a luz, apenas reflexos que se apresentavam longe de nosso alcance.

Em momento algum nos revoltamos com Deus ou questionamos por que estávamos com câncer. Não olhamos o que passamos no passado, apenas na nossa mente o que estava acontecendo.
Então, lá no fundo do poço, procuramos na escuridão que nos envolvia, encontrarmos uma saída, uma forma de enfrentar com altivez, dignidade, coragem, tudo que viria pela frente.

Com as mãos, procurávamos nas paredes do poço, alguma forma de escalarmos da profundidade e virmos para fora, dar início à luta contra o mal que nos afligia.
Encontrávamos uma pedra e nos agarrávamos a ela com todas nossas forças. Mais acima uma moita de capim em que segurávamos em busca da vida. E assim viemos no decorrer dos dias galgando lá do fundo do poço, de suas entranhas para atingirmos a luz do dia que passamos a enxergar.

Cada pedra, cada moita de capim, cada buraco nas paredes do poço, era a presença de Deus, do Supremo, que neles simbolizava a força de nossa esposa Terezinha, de nossos filhos, Julio e Fernando, de nossas noras Cynthia e Kelly, e, de nossa netinha Gabriela, que mandava-nos o recado: vovô, quando o senhor melhorar, venha ficar uns tempos aqui em casa.

Deus também se fez e faz presente através dos amigos que nos apoiaram com incentivos e orações. Continuem conosco, dando-nos força através de grupos de orações, de todos os credos, através de parentes, enfim, através de pessoas que ficaram sabendo e passaram a nos ajudar.

Assim, chegamos onde estamos.
Superando o mal maior, vencendo uma luta desigual, porém estamos vencendo, porque Deus está conosco.
O tratamento não terminou. Estamos com alta médica, mas sabemos que quem passa por esta doença, necessita ser monitorado no decorrer dos tempos. Ela é cruel, lutar com ela é subir em um calvário que nos é destinado por Ele, mas se nos deu, é porque nossos ombros toleram o peso da cruz. Estamos carregando-a com humildade e na esperança de ainda podermos ser de utilidade para nossa família, nossos amigos, aqueles que nos são caros e para a humanidade.

Todos que passam por esta doença e não é vencido por ela, é porque recebeu dádivas divinas dentro dos desígnios do Criador. É pelo fato de ainda termos que cumprir alguma missão aqui na terra.

Assim caros Leitores, narramos a vocês um pouco do que nos aconteceu e vem acontecendo, por vários motivos, sendo inclusive pelo fato de em momento algum omitirmos o mal que nos atingiu. Ao contrário, divulgamos ao máximo e em detalhes o que nos acontecia e acontece, para receber de vocês, a energia positiva que necessitamos.

Agora, com a intenção de ajudarmos mais ainda, procuramos nos expressar através destas linhas, transmitindo ao mesmo tempo, um pouco de fé em Deus, para aqueles que estão com o mal. Para as famílias que tem um doente sofrendo, lutando para superar, reagindo para vencer.

Agradecemos a todos que nos ajudaram e estão ajudando. Somente Deus poderá recompensar a cada um pelo que recebemos. E Ele, em sua infinita sabedoria, saberá como fazê-lo.

Era o que tínhamos.
Que Deus nos abençoe.
Um abraço.