domingo, agosto 26, 2007

SÃO SEBASTIÃO

Caros Leitores.

Mantida a impossibilidade de atualizar o Blog Ponto de Vista com conteúdo inédito, continuamos postando matérias até então publicadas nos jornais onde essa coluna já passou. Assim a aproximadamente 6 anos atrás, em 01/08/2001 falávamos sobre o Hospital São Sebastião... :

...Conforme combinamos, ou melhor, prometemos, iremos tratar hoje da história dos nosocômios de nossa querida Araguari. Longe de nós a pretensão de aqui narrarmos a história de cada um deles. Uma que seria necessária uma profunda e longa pesquisa para que erros não fossem cometidos, e outra que não somos historiadores, mas sim, pura e simplesmente, procuramos narrar fatos que relacionamos paralelamente a nossa infância, juventude e maioridade passadas nesta que para nós vem a ser o ícone de tudo aquilo que nos referimos. A cidade de Araguari. A que todos recebe de braços abertos, mas como um corpo humano, também apresenta rejeições àqueles que no decorrer de sua jornada nela, não sabem retribuir a altura os benefícios recebidos, e acabam por terem de dar meia volta, saindo pela mesma porta pela qual entraram.
Então, lá vamos nós iniciar nosso encontro semanal, adentrando nos anais da história deste que empresta o título de nossa matéria de hoje. Casa de Saúde São Sebastião e Maternidade Santa Maria.
De acordo com a história, e também pelo fato do Dr. Manoel Fernandes de Melo, nos receber em seu apartamento para uma conversa agradável a respeito de como tudo aconteceu, pudemos constatar que a Casa de Saúde São Sebastião, não foi o primeiro hospital de Araguari, mas sim o terceiro, uma vez que a Santa Casa de Misericórdia, fundada pela “Dona Mariquinha Rodrigues da Cunha e o senhor Amélio de Oliveira foi o primeiro, sendo o segundo, a Casa de Saúde Santa Marta, com os doutores Clemente Magalhães e João Alcântara (que além de médico, era músico da Orquestra Sinfônica de Salvador – BA), mas quanto aos dois como aos demais, iremos nos dedicar em matérias exclusivas que tentaremos fazer pela frente.


Voltando ao São Sebastião, contou-nos o Dr. Manoel, que o mesmo foi construído na década de 1920, mais precisamente, em 1926, pelo então médico e grande idealizador e também ampla visão, Dr. José Jehovah Santos, juntamente com o Dr. Manoel Musa, com o detalhe de como disse, pela visão do Dr. Jehovah, construir exclusivamente com a finalidade de ser uma “Casa de Saúde”, ter suas instalações não adaptadas, mas sim construídas com a finalidade única de atender às necessidades médico hospitalares, que já se avolumavam em Araguari, que na ocasião era o centro de todos os lugarejos que nos cercavam, inclusive a vizinha cidade de Uberlândia. Engenheiros especializados aqui vieram, chamados que foram pelos médicos idealizadores e pelo Cel. da Bagagem, Marciano Santos.


O prédio mais antigo, é aquele que estando nós de frente ao hospital, fica a esquerda, ostentando a imagem de “São Sebastião” em um oratório especialmente construído, tudo em estilo colonial, conforme as exigências de seus idealizadores.

Mas conforme meu amigo, meu mestre, exemplo de dedicação à arte abraçada, “Medicina”, Dr. Manoel, continuou a história vivida por ele, Com o passar dos tempos, Dr. José Jehovah Santos, passou a dedicar-se à política, e diga-se de passagem, um grande político, tendo governado nossa cidade e também comandado várias disputas eleitorais, quase sempre conseguindo vitórias, e com isto, não sobrando tempo para que exercesse a nobre arte da “Medicina”, onde então vendeu o São Sebastião para os irmãos Laureano, Drs. Arcino Santos Laureano, cirurgião, Amilcar Santos Laureano, R X, e Aldo Santos Laureano, laboratorista da Casa de Saúde recém adquirida entre os anos de 1935 a 1945. Daí então disse Dr. Manoel, o hospital passou a pertencer à família Melo, composta pelos irmãos médicos, Manoel Fernandes de Melo, Durval Fernandes de Melo, Milton Fernandes de Melo, Ciro Fernandes de Melo e Aparício Fernandes de Melo, todos formados pela “Escola de Medicina de Belo Horizonte”.

Inclusive, na formatura de Dr. Aparício, na solenidade de Colação de Grau e entrega de Diplomas, a matriarca da família, na presença de todos os filhos, além da grande platéia que prestigiava o ato, além também das autoridades presentes, senhora Teresa Fernandes de Melo, foi convidada a subir ao palco para receber os cumprimentos e as homenagens de entre seus 12 filhos, 8 homens e 4 mulheres, ter o privilégio de dar à sociedade, para a prática do bem ao próximo, através da nobre arte da Medicina, 5 filhos, fato até então inédito, e creio eu, inigualável até hoje pela perseverança e dedicação dos irmãos. Isto meus caros Leitores, é um fato histórico, e que talvez muito poucos tenham conhecimento dele.

Para mim, para minha família não é surpresa, pois fomos criados juntos com as citadas famílias. Crescemos com os filhos destes dedicados médicos, convivemos e desfrutamos de suas amizades, e orgulhosos ficamos quando aqui podemos narrar algum fato que diz respeito a eles. Muito os admiramos e respeitamos. Só temos a agradecer o muito que fizeram por nós, profissionalmente e sentimentalmente pelos laços que sempre nos uniram.

Mas como dizia, os irmãos Melo de posse do hospital, tiveram seu movimento aumentado sensivelmente, pelo fato da especialidade de cada um, Dr. Manoel cirurgião e obstetra, Dr. Durval, cirurgião e clínica geral, Dr. Milton, cirurgião, Dr. Ciro, R X e Radioterapia, Dr. Aparício, pediatria. Ora, todo e qualquer problema existente no que diz respeito à saúde, era resolvido na Casa de Saúde São Sebastião, e aí então, na década de 50, resolveram ampliar as instalações para melhor antender a todos que os procuravam.

Da mesma forma do primeiro prédio, foi construído o segundo, o do lado direito de quem fica de frente para o hospital. Nas mesmas linhas arquitetônicas foi construído em tempo recorde o novo nosocômio, que passou a chamar-se “Casa de Saúde São Sebastião e Maternidade Santa Maria”, passando a atender com maior conforto, segurança e rapidez àqueles que lá se dirigiam.

Volto agora, meus caros Leitores, lá na minha infância, juventude. Lembro-me perfeitamente até de detalhes da grande obra, uma vez que a Cia. Prada de Eletricidade (grande parte de minha vida está relacionada a ela, por meu Pai e também por mim), estava construindo a nova linha de transmissão de energia elétrica para Catalão. Perigosa a estrada que nos ligava até Catalão. Era via Amanhece, Bocaina, Bethout, Anhanguera, Cumari, Goiandira e Catalão. Justamente as cidades que estavam recebendo os benefícios da energia elétrica (tão discutida e comentada hoje com as irresponsabilidades dos “ilustres senhores” não merecem títulos com letras maiúsculas que geram seus destinos, ou melhor, deixaram chegar no que está), e que para a realização dos serviços, grandes riscos corriam os empregados que nela trabalhavam, apesar de serem especializados, mas a pouca tecnologia e equipamentos existentes na época, provocavam acidentes, e sempre de grande vulto e gravidades.

Para resolver o problema de atendimento, quando um desastre acontecia, envolvendo vários homens, todos eram removidos para o “São Sebastião”, pela excelência dos atendimentos uma vez que abrangia um grande número de médicos, 5 só de uma família, sendo inclusive necessário a vinda de médicos de outros hospitais.

Lembro-me, e ainda hoje, comentei com meu amigo, irmão de Ordem Macônica, ex-colega de serviço, Bartolomeu Teixeira. Certa feita, o velho caminhão Chevrolet 38, arrastando uma carreta tipo canhão, com um suporte sobre o chassis, transportando uns 15 postes para serem instalados lá por Anhanguera, transportando também toda a turma de serviços, 15 homens devidamente especializados, ao passar por Amanhece, iniciar a descida da serra da Bocaina, lá no “S” , perdeu os freios com o vazamento do óleo do sistema e desceu a toda velocidade. Pânico geral conforme o pessoal.

Sebastião de Souza, sub-chefe de serviço, pai do Varan, diagramador do Diário, estava na cabine do caminhão. Foi o único com ferimentos leves, pois ficou sob o painel do veículo na frente do banco. Conta-nos ele, o caminhão descia por disparada. O José Florêncio (Zé Viola) saudosa memória, era o Chefe da Turma, conseguiu fazer a curva do ”S”, e logo abaixo dela, existia uma vendinha de beira de estrada e atras dela, a ribanceira, e do lado direito, o grande barranco.

Agindo corretamente, o José Florêncio jogou o caminhão no barranco para pará-lo, mas dada a velocidade imprimida, o peso da carreta, fez com que o caminhão ricocheteasse e virasse para a esquerda em direção à vendinha, rolando pela ribanceira abaixo até bater em uma árvore. Como conseqüência, os postes da carreta, se misturaram com os homens, arrebentando-os de toda forma. Foi uma tragédia que deixou marca na Prada. Um faleceu no local, os demais foram transportados para o São Sebastião que mobilizou todos os médicos da cidade para o atendimento.

Eram 14 homens estraçalhados com a violência do desastre. Isto ocorreu entre 1955 a 1957, eu e Bartolomeu não conseguimos precisar a data, mas nos lembramos de como ficaram após atendidos , operados e medicados os feridos. Todos se salvaram, mas lembramos que 3 ficaram engessados do pescoço aos pés, com tudo quebrado. Todos os recursos existentes na época foram empregados, e a técnica, a eficiência com a mão de Deus, fizeram com que todos se recuperassem totalmente do drama vivido.

Outros acidentes ocorreram, porém este foi o de maior gravidade. Se para a família Prada o São Sebastião deixou saudades por tanto bem realizado, imaginem vocês caros Leitores, para o povo de Araguari e cidades vizinhas. Sabemos nós, não só alegrias ele trouxe com nascimentos na Maternidade, salvamento de acidentes, cirurgias bem sucedidas, mas também os milagres nem sempre existiram, e quanta tragédia ficou marcada lá dentro e nos corações dos que a passaram. A própria família Melo muito sofreu. Mas tudo sob a vontade do “Supremo Criador dos Mundos” que a todos olha. Somos pequenas peças teatrais no grande palco da vida. Quando o Criador resolve baixar o pano, tudo se acaba. Mas em sua infinita sabedoria, Ele nos dá muitas alegrias.

Mas como disse, a própria família sofreu muito, e com a morte do Dr. Milton Fernandes de Melo, que deixou uma grande lacuna (a praça do Aeroporto leva seu nome com grande justiça), e com a idade já se avolumando, os demais irmãos resolveram vender parte do grande nosocômio a uma sociedade médica que inclusive já trabalhava no hospital, passando assim em 1973 a funcionar com nova administração que continuou e ampliou o sistema implantado por seus fundadores. Dr. Durval Fernandes de Melo, posteriormente também veio a falecer, deixando muitas saudades.

Ao encerrar minha visita ao Dr. Manoel, quando da despedida, ele levou-me até uma mesinha de canto e mostrou-me o “Orgulho de Sua Vida”, o troféu “Personalidade do Século XX” ofertada a ele em 1999 como Médico Destaque. Nascido em 1910, tem hoje Dr. Manoel, 91 anos de vida. Formou-se em 1935 e tem 67 anos de profissão. Como disse anteriormente, é o decano dos médicos de Araguari, talvez da região ou do Brasil, o mais velho em idade e em profissão, e ainda em exercício. Permanece ele, assim como Dr. Aparício, sócios do São Sebastião, gozando do carinho e da amizade dos demais médicos e funcionários daquele nosocômio.

Obrigado Dr. Manoel, meu amigo, meu irmão de Ordem Maçônica, assim como Dr. Aparício. Obrigado pela forma gentil, carinhosa, amiga, alegre com que nos recebeu e narrou toda esta história. Que as bênçãos do Grande Arquiteto do Universo, continuem caindo sobre sua maravilhosa família, a maravilhosa Casa de Saúde São Sebastião e Maternidade Santa Maria, sanando dores e proporcionando saúde a quem de vocês necessitarem.

Mas aí meus caros Leitores, para poder chegar ao final desta narrativa, fui direto para o São Sebastião, ter contato com meu amigo, um de meus médicos (digo um, porque já passei por 18 cirurgias e a muitos dele devo com as bênçãos de Deus o fato de estar vivo) Dr. Antônio Bosi, para inteirar-me do atual estado do nosocômio “São Sebastião”.Disse-me Bosi (trato-o assim pela grande amizade que mantemos, pois sabe ele do respeito que lhe dedico), que quando da transformação do hospital em Sociedade Médica em julho de 1973, passou o mesmo por uma grande reforma, sendo inclusive implantado equipamentos vários e aumento da equipe médica, ficando assim conhecido como o “melhor hospital da região”, o que muito nos orgulha, pois saber que Araguari é um grande centro médico-hospitalar, deixa-nos envaidecidos e orgulhosos, principalmente minha pessoa, que como outras já fizeram uso dele, sendo que eu por 5 vezes, tendo sido operado pelo Dr. Bosi, Dr. Nivaldo, Dr. Ilton, todos com suas equipes, sendo que até brinco com Dr. Marcílio e Dr. Dellage, anestesistas do hospital, que tenho tanto tempo de anestesia que já posso até me anestesiar. Tenho tantas intervenções cirúrgicas, que conforme o Professor Newton Dias de Abreu, não é só a saúde que eu tenho mais as bênçãos de Deus que me ajudam não, é a vitalidade que possuo que ajuda-me a enfrentar as pauladas que levo. Mas é isso aí, estou inteiro e com saúde, sempre pronto para enfrentar a vida com coragem.

Fugi novamente do assunto, vamos continuar, hoje o São Sebastião possui um quadro de 37 médicos das diversas especialidades, 60 funcionários entre atendentes, enfermeiras, telefonistas, serventes, cozinheiras, copeiras e também a farmacêutica própria, além do grande e completo laboratório de analises clínicas. Possui 14 apartamentos completos, com TV, frigobar, ar condicionado, 12 quartos e 4 enfermarias com pediatria. 100 leitos à disposição de quem necessitar. R X, litotripsia urológica e cirurgia laborascópica. Uma capela para uso dos fiéis e uma farmácia completa. Tem o hospital uma média de 200 internações mês, um centro cirúrgico com 3 salas de cirurgia, realizando média de 100 por mês, e um centro obstétrico. Possui ainda o hospital para melhor atender seus clientes, duas ambulâncias e convênios dos mais variados..

Para completar, fomos informados de que dentro em breve, o hospital estará inaugurando pela rua Rodolfo Paixão, um prédio só com consultórios, em um total de 32, sendo a construção dentro dos padrões médicos hospitalares, dotado de todos os equipamentos. Serão mais 60 empregos para os araguarinos.
Com tantas informações colhidas, senti-me realizado em minha missão, agradeci, como de público agradeço a acolhida, despedi-me, assim como dos médicos que se acercaram e dos quais desfrutamos da amizade, e partimos para redigirmos este Ponto de Vista.

Encontrei-me com Dr. Sebastião Campos casualmente, e ele disse-me que quando da construção do hospital, a mesma foi feita no nível da avenida, porém com o tempo, Dr. Jehovah Santos, já como político, mandou rebaixar a mesma, a picareta, para que pudessem passar com as redes de água e esgoto, nivelando-a com a parte de baixo. Vejam que os prédios que permanecem no alto são os do hospital e o do Raul Soares. O restante foi demolido para a construção do Lorena Center e do Banco do Brasil. Lembram-se das casas ? Na esquina da Afonso Pena a loteria do Porto e uma residência do senhor Vicente França, e lá no Banco do Brasil, morou o senhor Nasário Augusto Vilela e a da família Torres. (Professores Otoni e Otonite Torres).

Então é isso aí meus caros Leitores. Como disse, não era minha pretensão contar a história dos nosocômios de Araguari, mas sim parte delas, e às vezes, que vivemos, e hoje aí está uma para vocês, e espero que seja do agrado, um pouco sobre esta que tanto faz por Araguari e seu povo, a Casa de Saúde São Sebastião e Maternidade Santa Maria.

Caros Leitores, me referi lá atrás, ao Professor Newton Dias de Abreu. Conversei longamente com ele, e ele disse-me gostar do que escrevo, e que sua filha, a jornalista Lívia Dias de Abreu, fica esperando pelo sábado para nos ler. Isto envaidece qualquer um. Agradeço de coração pela distinção, da mesma forma ao Professor Jarbas Ferreira da Silva, ao José Reinaldo Belém Flores, sua esposa, Marila Guimarães Flores, ao Dr. Toshi Hirono, do laboratório Hirono, ao meu amigo Ângelo Epitácio Lomazzi, à professora Guaraciaba Ferreira da Silva. Diretor do PROCON, Raul Campos Júnior. Muito obrigado pela distinção de vocês e pelos incentivos a continuarmos conversando através do Diário de Araguari. Emocionados e envaidecidos agradecemos.
Não poderia eu, encerrar este Ponto de Vista, sem antes prestar uma homenagem Póstuma a uma pessoa que passou por esta vida de forma brilhante. De forma pura. De forma digna. De forma honesta. De forma imaculada, uma vez que ninguém jamais poderá se manifestar a não ser para elogiar e lembrar sua estada entre nós. Muito fez por Araguari. Professor inteligentíssimo. Idealista por natureza. Um dos fundadores da FUME-FAFI – Ex-Fundação Municipal de Ensino, que era mantenedora da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Araguari, seu fundador, seu professor, seu Diretor. Filho exemplar, irmão maravilhoso, amigo sincero. Grande personalidade. Dignidade inatingível. Personalidade inigualável. Cumpriu sua missão aqui na terra. Deus o chamou para seu convívio. Perdemos uma Jóia, Deus ganhou um Tesouro . Obrigado por ter-me aceito como amigo. Orgulho-me de ter desfrutado de sua confiança. A0 lacuna deixada jamais será preenchida. Descanse em paz TEOTONIO VIEIRA DE RESENDE. Que Deus o tenha em seu Reino. Obrigado pelo que fez por todos.

Era o que tínhamos.
Que Deus nos abençoe.
Um abraço

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