sexta-feira, dezembro 26, 2008

De Volta ao Piçarrão

Caros Leitores.

De um encontro casual entre o saudoso Dr. Wagner Henriques Guimarães, Dr. Neiton de Paiva Neves, e nossa pessoa, no decorrer da conversa, surgiu o assunto da Usina Piçarrão. A velha usina da Cia. Prada, onde fomos criados, desde nossa infância, passeando com nossos pais, nossa juventude, quando já passamos a trabalhar na Prada, e posteriormente, já casados e ainda trabalhando lá na velha Prada e posteriormente CEMIG. Isto de 1950 a 1975 mais precisamente.

Conversa vai, conversa vem, lembranças vindo à tona, quando dissemos: pode parecer até piada, mas desde que saímos da Prada-CEMIG, (apesar de ter trabalhado três anos na CEMIG, não sabemos fazer discriminação de ambas) quando de nossa demissão, em 1976, nunca mais voltamos lá no Piçarrão.

Consideramos este fato incrível, mas é verdade.

Dr. Neiton, manifestou sua grande vontade de conhecer o local, pois em tempos idos, não teve a oportunidade de conhecê-la, pelo fato da rigidez imposta por ambas as empresas.

Local perigoso, difícil acesso, e outras dificuldades da época. Trabalho, estudos, transporte, e motivos vários. Dr. Wagner, que era pescador nas horas vagas, também grande amigo de Araguari, conhecedor de locais turísticos e freqüentador de vários outros pelo seu lazer, comentou: meu filho, é o Secretário de Turismo e Meio Ambiente, está procedendo um levantamento para fins ecológicos junto à CEMIG, talvez ele possa conseguir marcar um passeio nosso até lá para ampliar os conhecimentos e matar um pouco as saudades.

Ora, sem pestanejar, todos concordamos com a agradável idéia do Wagner (vamos assim chamar a turma pelos laços de amizade que nos unem), e passamos então a aguardar a resposta que para nós seria de fato a volta ao passado. Para Neiton, seria a primeira ida.
Um local a ser explorado detalhadamente.

Passou-se mais de um mês, e eis que de repente, em certo momento, recebemos uma ligação telefônica do Wagner, dizendo: Peron, o Antônio, meu filho, arrumou tudo para nosso passeio lá no Piçarrão, junto à CEMIG, para amanhã, sábado, dia 15, a partir das 9 horas. Dá para ir ou tem algum compromisso ? Mais que depressa, dentro da emoção que nos pegou, respondemos sem vacilar: que maravilha, tudo certo, vamos lá. Então ele disse: vou avisar ao Neiton e amanhã às 9 horas nós nos encontramos.

Meus caros Leitores, como é característica nossa, temos que contar tudo minuciosamente, para embelezar mais ainda fatos como este, enriquecê-lo ao máximo, pois temos certeza que transmitimos para vocês, o que possa haver de melhor naquilo que vivemos.

Mas vamos em frente, passamos uma noite até agitada, pensando que após 26 anos, iríamos voltar lá naquele local onde crescemos, divertimos e trabalhamos, juntamente com uma plêiade de homens que compunham a Prada, como; Manoel de Melo, Chefe da Usina; José Quirino Filho, Sub-chefe, Brasil de Artiaga Romeiro Lopes, maquinista, Waldemar e Jesus, maquinistas e comporteiros.

Íamos lá sempre com Carlos Vanez Menino Bedrosian (hoje Ten. Coronel da Força Aérea Americana e médico famoso), Joaquim dos Reis Sobrinho, de saudosa memória, (partiu cedo vítima de acidente no trânsito em Araguari), era o marido da professora Terezinha Rodrigues dos Reis, uma baluarte do ensino em nossa cidade; com Déo Garcia, com o Bartolomeu Teixeira, sem contar que o pai dele era o Técnico em Alta e Baixa Tensão que a Prada possuía, companheiro inseparável de meu Pai em toda sua jornada pela carreira Prada, senhor Pedro Teixeira.

Vejam só, já estamos divagando no tempo e no espaço com a beleza daquilo que nos aconteceu em um 15 de setembro, e que ficou registrado através de maravilhosas fotografias tiradas por todos.

Continuemos, na manhã de sábado, exatamente às 9 horas, estava na porta de casa, o Wagner, seu filho, Antônio José Maia Guimarães, então Secretário de Turismo e Meio Ambiente do município, sua esposa, Andréia Maciel Ramos Guimarães, psicóloga e então Diretora de Recursos Humanos da Prefeitura Municipal, até o nenezinho, uma linda garotinha de quatro meses, uma belezinha.

De casa, saímos para buscar o Neiton, eu e meu filho Fernando, engenheiro em Goiânia, e que também não chegou a conhecer a Usina Piçarrão em tempos idos. Também como meu filho Julio, engenheiro mecânico em Belo Horizonte, que também e por falha nossa, nunca foi ao local tão admirado e fonte de nossa sobrevivência por vários anos de nossa vida profissional. Cometemos erros infantis, porém, no caso, estamos sanando levando-os até lá.

Passamos no Neiton, que também com sua pontualidade britânica, estava na porta nos aguardando. Cumprimentos rápidos e partimos em nossa “aventura” para a Usina Piçarrão.

Antigamente era longe, íamos pela antiga estrada para Uberlândia, passávamos pela primeira chácara que o senhor França da Ford tinha lá na primeira curva da estrada. Rodávamos mais alguns quilômetros e atingíamos a entrada do Preventório Eunice Wever, passávamos por ela, mais alguns quilômetros e deixávamos a estrada para Uberlândia, pegando a estrada do Piçarrão, que seguia para Santa Luzia, Cascalho Rico, Gameleira, Estrela do Sul, Bagagem, Monte Carmelo, Patrocínio, Serra Negra e por aí a fora. Mas então descíamos por ela até a porta das fazendas dos senhores Zéca Ferreira e Abadio Ribeiro, e naquela estradinha estreita, chegávamos pela frente na entrada da Usina Piçarrão.


Desta feita não, saímos pela estrada de Indianópolis, rodamos alguns quilômetros e viramos à esquerda e já fomos descendo passando em alguns trechos da antiga estrada. Sinceramente, nossas emoções balançaram as estruturas. Respiramos fundo, chegamos à ponte do rio Piçarrão, atravessamos e tivemos acesso ali naquele bonito local que já chegou a ser início de um clube de campo idealizado pelo saudoso Felício de Lúcia, que lutou bastante, mas pelo difícil acesso da época não logrou êxito. Passamos pela igreja do Piçarrão, local de muitas festas religiosas, onde a comunidade rural comemora as datas festivas com novenas, quermesses, festas em geral, e tivemos acesso pelo lado de cima da usina, saindo da estrada que segue até hoje para os locais citados, e está perfeitamente transitável, sendo muitíssima usada pelos fazendeiros da região.

Enfim chegamos. Lá na porteira de acesso, estavam a nossa espera, José Emanuel da Costa Serafim, Encarregado de Segurança da CEMIG, e o agente de segurança Alexandre Beyrstedt.

Uma elegante recepção. Cumprimentos, apresentações e lá fomos nós, direto, para a Casa de Máquinas. Agradável surpresa, onde só tínhamos acesso pelo canal ou pela escadaria, 315 degraus, descemos confortavelmente de carro, através do contorno do morro que só descia jeep com tração nas quatro rodas, ou carros puxados por bois para quando era necessário a remoção de peças danificadas da usina, assim como para suas reposições. Todo o acesso em via cimentada. Uma descida forte, íngreme, porém segura. Foi um sonho, em minutos estávamos lá, na casa de máquinas, que teve o início de sua construção em 1923.



Estava tudo trancado, e o segurança, então abriu as portas da casa de máquinas, levando-nos há 26 anos atrás. Fomos para um canto, lá no pé da escadaria, e deixamos a emoção extravasar. Lágrimas fluíram de nossos olhos, não de tristezas, mas sim de alegrias por estarmos ali novamente, e em minutos, passaram diante de nossos olhos, toda uma existência. Esta emoção foi exclusivamente nossa. Parecíamos uma criança que acabara de ganhar um brinquedo e queria desfrutá-lo ao máximo em poucos minutos, pois sabíamos que não iríamos passar o dia ali. Então queríamos aproveitar ao máximo, e como aproveitamos.





Na visita ao interior da usina, esclarecimentos sobre a reforma do maquinário e seu funcionamento, foram dados pelo senhor Serafim, como dados técnicos, sendo o comando da mesma feito direto de Belo Horizonte, enfim esclarecimentos minuciosos e precisos foram-nos passados por ele, colocando a todos presentes a par do funcionamento geral da mesma.


Passamos então para a parte externa, e lá foram todos, através das pedras à beira do rio, até debaixo da bela cachoeira do Piçarrão, com seus 70 metros de queda de água, em um verdadeiro véu de noiva, dada a beleza com que se apresenta aos nossos olhos.


Olhamos então para o Neiton, para o Wagner, para o Antônio, sua esposa, para meu filho, e pudemos sentir que estavam todos extasiados com tanta beleza proporcionada pela natureza, feitas pelas mãos do Criador. Só mesmo Ele para fazer coisa tão bela. A mãe natureza é perfeita em todos os aspectos. Sentimo-nos pequeninos diante de tanta grandiosidade.

Daí então, resolvemos subir. Neiton, Wagner, Antônio, resolveram subir pela escadaria, passando sobre o canal a céu aberto e pelos tubos instalados dependurados por cabos de aço. Fomos de carro. Infelizmente não temos mais condições físicas para locais perigosos. Subimos de carro rapidamente por onde descemos e que antigamente como dissemos, só com carros de boi, e viemos esperar o pessoal aqui em cima da represa. De lá os acompanhamos em suas jornadas na longa subida. Passando pelo canal e chegando até nós.




Tiveram ângulos maravilhosos para registrar a bela e inesquecível manhã através de suas lentes fotográficas.

Lá em cima da represa, tivemos a oportunidade de mostrar-lhes o nosso tempo. Mostramos onde eram as casas dos funcionários, (interessante, demoliram as casas mas deixaram a rede de iluminação nos locais onde estavam e funcionando), mostramos onde nadávamos com a turma quando terminavam o trabalho de manutenção do canal ou de máquinas e depois iam se refrescar para um churrasco que sempre era feito. O churrasqueiro oficial da Prada era o Victor Rodrigues ajudado por Sebastião de Souza, Joaquim Reis, e o pessoal todo desfrutava da lauta refeição.

Chamou-nos a atenção, os cuidados do Secretário de Meio Ambiente. Ecologista que é, passou a ver garrafas de plástico, latas de cerveja e refrigerantes, plásticos e outros objetos mais, trazidos pelas águas e encostados nas pedras e barrancos do rio. Passou ele, juntamente com seu pai, o Wagner, a recolherem aquele lixo e colocarem em local a ser removido posteriormente. Gesto de quem gosta da natureza. Ficou marcado.


Assim meus caros Leitores, demos por encerrada nossa jornada pelas terras do Piçarrão. Fomos para debaixo da grande figueira, talvez centenária dado seu porte, desfrutar de sua sombra e folhearmos o “Dossiê de Tombamento Histórico da Usina Piçarrão”, considerado pelo I.E.P.H.A. , Instituto Estadual de Patrimônio Histórico e Artístico, como modelo para Minas Gerais.


Relação dos Bens Tombados em Araguari


Abrimos um espaço aqui, para registrar que este Dossiê, assim como o do Conjunto da Rede Ferroviária, do Conjunto do Colégio Regina Pácis, da Casa da Cultura, da Câmara Municipal, da casa do Dr. João Nascimento de Godoy, da Goiás Atlética, do Complexo do Colégio Sagrado Coração de Jesus e Maria, do Bosque Jhon Kennedy, da Escola Estadual Raul Soares, do prédio da antiga Cia. Prada de Eletricidade, da Mata do Desamparo, foram todos feitos sob a coordenação direta da senhora Marlene Maia Guimarães, que era Diretora de Patrimônio Histórico, na gestão de Milton Lima, de 1997/2000.

Rendemos homenagem e agradecimento por tão significativo e relevante trabalho em prol da cultura e história araguarina.



Mas voltando lá para debaixo da figueira, pudemos observar o levantamento geral do Dossiê, e nele encontrarmos dados significativos, inclusive a escritura da área quando da aquisição pela Cia. Prada de Eletricidade. Nela lê-se Piçarrão com dois “s” mas nas demais documentações constatou-se ser o correto com “c” cedilha mesmo. O Wagner até brincou, “há controvérsias”, e nós respondemos, olha aí o “Pedro Pedreira”.

A riqueza do Dossiê é imensurável. Além do passeio, tivemos a oportunidade de aprofundarmos no Piçarrão, tanto através da vivência passada, quanto através do levantamento elaborado tão cuidadosa e minuciosamente pela senhora Diretora da época, tanto é que a Usina Piçarrão é Patrimônio Histórico Cultural de Araguari, devidamente tombado e registrado no órgão citado.

Gostaríamos aqui de dizer, que conforme nos foi informado, foram gastos R$ 1.200.000,00 (Hum milhão e duzentos mil reais), pela CEMIG, para restaurar a parte técnica da Usina e colocá-la novamente em funcionamento, integrando o seu quadro de 62 usinas .



Principais Usinas da CEMIG

Quando de sua construção, a mesma abastecia Araguari e ainda enviava a produção excedente para Uberlândia. Desativada por vários anos, hoje em funcionamento, contribui em muito no racionamento que vivemos, ajudando a amenizá-lo.

Na hipótese de transformação em ponto turístico, é lógico e evidente que será feita uma infra estrutura de acordo com os padrões exigidos, e ainda sugerimos, para que seja a verdadeira Usina Piçarrão, que as casas demolidas, sejam reconstruidas, ajardinadas como eram, com as passarelas e jardins que a faziam um verdadeiro presépio. A construção de restaurantes, lanchonetes tanto em cima da cachoeira, como lá em baixo da mesma, irá proporcionar lazer para muitos araguarinos e pessoas de fora que aqui virão desfrutar nosso tesouro.

Com tudo isto exposto, meus caros Leitores, demos por encerrada a belíssima visita à Usina do Piçarrão, e quando das despedidas, tivemos a oportunidade de dizer ao então Secretário de Ecologia e Meio Ambiente, Dr. Antônio José Maia Guimarães, que se ele, consegui-se junto à CEMIG, transformar aquela jóia preciosa incrustada no vale denominado Piçarrão, em ponto turístico, Araguari iria possuir um dos recantos ecológicos mais belos de nosso imenso Brasil. Como resposta ele nos disse: Peron, as negociações estão em andamento, e cremos que dentro em breve conseguiremos nosso intento. Na presença de todos dissemos a ele: realizando tal feito, pode-se considerar realizado, pois terá dotado nossa cidade de um Ponto Turístico de raras belezas e que trará para cá verdadeiras caravanas de turistas. Será o início de uma nova fase.

E assim, nos despedimos, e retornamos aos nossos lares, emocionados, realizados, felizes, e de público, deixamos nossos sinceros e profundos agradecimentos ao Dr. Wagner Henriques Guimarães, seu filho Dr. Antônio José Maia Guimarães, sua esposa Dra. Andréia Maciel Maia Guimarães por nos proporcionarem tantas alegrias com nosso retorno ao ninho que estava tão perto e ao mesmo tempo distante considerando-se as vicissitudes da vida.

Obrigado, obrigado de coração. Ao meu amigo, Dr. Neiton de Paiva Neves, agradecemos a companhia agradável e a oportunidade que tivemos juntos de desfrutar de um passado glorioso. Ao nosso Irmão de Ordem Maçônica, José Emanuel da Costa Serafim, Chefe de Segurança da CEMIG, agradecemos as atenções dispensadas, assim como a alegria demonstrada em estar nos proporcionando tantas emoções. Gratos Serafim. Obrigado também pela assistência prestada pelo segurança Alexandre Beyrstedt.

Meus caros Leitores chegamos assim ao término de mais um Ponto de Vista e passamos a vocês, um pensamento que achamos muito filosófico e tranqüilizante, ou seja: “Se não houver frutos, valeu a beleza das flores. Se não houver flores, valeu a sombra das folhas. Se não houver folhas, valeu a intenção da semente”. “Henfil”.

Era o que tínhamos.
Que Deus nos abençoe.
Um abraço.
Fotos:
Usina: Prefeitura Municipal / FAEC / Divisão Patrimônio Histórico de Araguari
Visitantes (casa de máquinas): Arquivo pessoal
Vista aérea: Google Earth

6 comentários:

Alessandre Campos disse...

Graças a iniciativas de pessoas que, realmente, conhecem a importância do nosso Patrimônio Cultural, que pudemos ter essa maravilhosa obra tombada pelo Patrimônio Histórico e Cultural do Municipio de Araguari, agora, temos que trabalhar pelo tombamento estadual desta preciosidade.

Anônimo disse...

Adorei ter passeado pelo Piçarrão apesar de nunca ter ido por lá.
Abraços.

Alessandre Campos disse...

Veja também ma´teira escrita por Dr. Peron sobre o Piçarrão no link abaixo:

http://panoramaaraguari.blogspot.com/2006/02/piarro-o-futuro-turstico-de-araguari.html

Anônimo disse...

Caro Amigo Peron

Acabo de ler sua matéria sobre nossa ida à Usina Piçarrão. Com suainvejável memória e sua capacidade narrativa, você descreve comperfeição nossa ”aventura” naquele lugar belíssimo e tão presente nahistória de sua vida.

Estou lhe devendo uma visita e as fotografias da turma do antigo BancoNacional. Também algumas da ida à Usina Piçarrão e outras que registrampedaços do passado que vivemos.

Ano que vem, pagarei tudo. Receba, e toda a sua família, meu votos de um Ano Novo abençoado porDeus. Força, saúde e paz. Abraço cordial.

Neiton

C^0rtes disse...

Naci neste luga chamada casa do usina:
Meu pai geraldo V Cortes.
Minha Maria E S cortes.
Eu Benedito C Cortes,hoje vivo na Grande B-H Sou pastor da Assembleia de Deus ,naci dia 18 de maio de 1961,muita sauuuuuuuuuuuuuuuuuuudade,

Fernanda disse...

É um lindo lugar sem dúvida! Me mudei para Araguari onde muitos julgam ser um "fim de mundo" mas poucos sabem de como é bom morar em um lugar onde os pássaros me acordam! Onde meus filhos podem brincar comigo na rua com mais tranquilidade! Hoje tentamos visitar a Usina mas não conseguimos descer a trilha com as crianças, precisamos de alguem que conheça melhor o local! E logo que conseguir visitar de perto terei imenso prazer de publicar as fotos!
Tenha um excelente dia!
Abraço, Fernanda