Um elemento, inicia suas atividades no trabalho, quando ainda jovem, às vezes, crianças, por empregadores que burlam a Lei. Outras vezes já com idade madura, após passarem por anos e anos dentro de uma universidade, cursando profissões, Medicina, Direito, Administração, Pedagogia, Letras, Engenharia, Computação, atividades liberais em que irão atuar. Enfim, começam a fazer parte dos trabalhadores do Brasil, que deles depende para um crescimento satisfatório, e, ao mesmo tempo, terem eles, os trabalhadores, subsistência em suas vidas, construírem seus futuros, casarem-se, constituírem famílias, fazendo tudo aquilo que é necessário para o desenvolvimento de uma cidade.
Em torno de tudo isto, ocorrem os fatores que fazem do dia a dia, a seqüência do Dom da vida, vida esta que para ser vivida, sofremos nós, os que nela estão, todas e quaisquer conseqüências a que estamos sujeitos pelo simples fato de estarmos vivos. Suscetíveis a vicissitudes que nos levam a doenças, tratamentos, e, finalmente, à morte. É o ciclo da vida: nascimento, vivência e morte. Início, meio e fim. Como queiram, qualquer definição leva a um final.
Estamos chegando onde queremos chegar. O transcorrer de nossas existências. Alegrias de crianças, de juventude, o primeiro emprego, a vida profissional, uma trajetória de trabalho em prol da família, do lar, da sociedade em que vivemos, e, logicamente, nossa mesmo, procurando sempre o melhor que pudermos tirar das lutas que enfrentamos.
O sucesso no trabalho nos proporciona a constituição de um lar. Com isto, o casamento, os filhos, a educação deles nas escolas, seus crescimentos, formaturas, novos casamentos, netos, novos empregos e quando vemos, sentimos pela coisa, completamos nosso período legal de trabalho junto àquilo que nos dedicamos. É chegada a hora da aposentadoria. Sim, isto mesmo, estamos aptos a nos aposentar. Tempo de trabalho cumprido, jornada efetuada. Maravilha que se desponta aos nossos olhos. Desfrutar da vida após 35 anos de lutas. Muitos se aposentam de formas outras, inclusive invalidez. Mas vamos considerar aqui, a aposentadoria por tempo de serviço.
Chegou o dia tão esperado e agora festejado.
A “Aposentadoria”.
Festa total. Muitos tem a condição de comemorar com uma bela e pomposa despedida, regada a cerveja, vinhos, até champanhe. Outros, com uns salgadinhos, no trabalho, despedida dos amigos, colegas de serviço por longos e longos anos. Afinal, sair do emprego, merecidamente aposentado e ir embora para casa, sem antes oferecer uma festinha aos colegas, ah, isto ninguém quer. O dia merece uma comemoração. Abraços, lembranças do passado que foi ontem, promessas de encontros futuros. E o tempo foi embora, não só de serviço, como da festa de despedida também. De repente, o novo aposentado olha para um lado, para o outro, e, se vê sozinho neste mundo que até agora mesmo ele trabalhou.
Aí então, o aposentado, começa sua vida de descanso total.
No dia seguinte, já amanhece de bermudas, chinelos e camiseta do time que torce. Vai após o café para o quintal. Dá uma arrumada geral no quartinho de despejo. Ajeita tudo direitinho. Gasta o dia inteiro para isto. No dia seguinte, nova tarefa, limpar o quintal, arrumar a casinha do cachorro, lavar tudo, aguar as plantas, agora da mulher do aposentado, cortar a grama, podar os pés de frutas, levar tudo para a rua, chamar o carroceiro e pronto. Tudo feito. Nada mais a amolar.
Agora ele está por conta. Nada para fazer. O que fazer então ?
Ora, realizar o velho sonho, sair pelas ruas, de bermudas mesmo, “amolando” a todos e a tudo. Sem perceber ele já começa a ser inconveniente. Uma paradinha na padaria, café, papinho, e o pessoal que está de serviço tomando o seu lanche, já se cansa da conversa fiada dele. Desconfiado parte para outra. Sai de mansinho, vai visitar outro estabelecimento comercial de um amigo. Lá chegando percebe também que os outros estão trabalhando e ele à toa. Fica chato permanecer. Então vai embora de novo. No fim chega lá na praça. Aí sim, ela está cheia de aposentados. Como tem gente sem fazer nada. Fazer nada ? Ora, é um direito adquirido não fazer nada. E ele agora o tem. Vai ficar ali sem fazer nada, ou melhor, vai jogar damas, torrinha, xadrez, baralho, conversar fiado, e, no final do dia, após ter ido almoçar e voltar para o período da tarde, fazendo a mesma coisa, vai embora tomar seu banho e encher a cara de cerveja no boteco da esquina.
E o tempo passa. Quantas bermudas, camisetas, chinelos ele já usou. Afinal, o governo o encostou e não dá a mínima atenção para ele. E ele já está desgostoso com isto. Todo o dia a mesma coisa.
Ah, tem o pescador também. Antes da aposentadoria, a pescaria era só no final de semana e pronto. Agora, todo dia, toda hora, tem um procurando por ele para ir pescar. No começo ele acha bom, depois se cansa também. Afinal, que vida é esta.
Aquele belo salário que ele tinha na ativa, a cada ano se reduz mais e mais com o achatamento. Reajuste de 5% ao ano para baixo. Quem ganhava 10 salários, agora, muitos deles, recebem 5, 4, 3. A renda está pequena.
O governo arrumou um empréstimo aí. Fácil de fazê-lo, até por telefone. Mas o aposentado, vive com o pouco que ganha. Quem usa do empréstimo, vem a ser um filho, um cunhado, um sobrinho, um genro, afinal é para a família mesmo. E no final das contas, está o senhor aposentado, com poucos tostões, pelo fato de no final do mês, vir descontado na sua aposentadoria, aquela parcela do empréstimo fácil que o governo autorizou as financeiras a fazer. O dinheiro não dá para comprar mais bermudas, chinelos e camisetas.
E o nosso aposentado, como está ? Na verdade chateado, deprimido, sem lugar, e desprestigiado por todos pelo fato dele ser na verdade: “ Aposentado – Um zero a esquerda”. Não significa nada para ninguém. Duvidam ? Então vejamos: por acaso, vocês caros Leitores, já viram alguma propaganda ou reportagem na TV ou nos jornais, mostrarem um aposentado com dignidade ? Não ? Nós também não.
Sempre que há uma entrevista com uma pessoa, sob sua imagem vem a legenda: professor, engenheiro, pedreiro, advogado, carroceiro, médico, enfermeiro, dentista, advogado, juiz, promotor, etc., etc., etc.. Quando aparece um aposentado, vê-se a legenda: “aposentado”. Isto confirma nossa afirmativa que ele é um zero a esquerda.
Por que, a imprensa não valoriza uma pessoa que deu uma vida inteira de trabalho para a grandeza de sua cidade, para criar sua família, para o bem do Brasil, apresentando-o como “fulano de tal, médico aposentado”, ou “fulano de tal, pedreiro aposentado”, ou “fulano de tal, professor aposentado”, ou “fulano de tal, advogado aposentado”, etc., etc.
Estão vendo como o “aposentado” é um zero a esquerda ? Estão vendo como ele não tem valor algum perante a sociedade ? Ela se esqueceu dele que ainda está vivo, circulando entre todos, chamando-o apenas de aposentado, como se fosse o nome uma profissão.
Errado, triste, deprimente. O aposentado, sentiu com o tempo que está parado, que ele só serve mesmo para amolar os outros, e, estes tirarem proveito dele. Passou a observar que com sua ociosidade, começou a sofrer de uma série de doenças, doenças estas que antes não tinha, nem dor de cabeça. Tinha apenas preocupações com o trabalho.
Muitos aposentados sabem levar uma vida sadia. Sabem se divertir. Sabem usufruir seus clubes. Mas vocês já observaram os comentários quais são ? Ouvimos por aí: os velhinhos vão dançar; clube dos velhos; vejam os velhos namorando; velhinhos assanhados. E por aí a fora, sem qualquer respeito a uma pessoa que é importante, cumpriu com sua jornada, é parte integrante da sociedade que vivemos.
Que terceira idade que nada. Eles estão mais na ativa que muitos de meia idade. Falando claramente, até sexualmente. Vivem com alegria. São experiente, são pessoas. Todo respeito é pouco.
Na verdade, os novos profissionais, de qualquer área, necessitam da ajuda de um aposentado. As grandes empresas, procuram por eles. Contratam seus serviços profissionais. Muitos constituem empresas de consultoria, aumentam suas rendas, continuam na ativa. Mostram que os conhecimentos adquiridos nos anos que passaram, não foram em vão. Estão aí. Aptos, ajudando, vendendo seus projetos, aperfeiçoando os dos demais. Muitos trabalham até de vendedores de picolés em carrinhos, o que muito os dignifica, não querem ficar “à toa” por aí. Outros, fazem jardinagem, outros por serem novos, voltam a ativa.
Isto tudo, poucos cidadãos se aperceberam. Somente sabem tratá-los como “aposentado”. Encostado, sem ter o que fazer. Ganhando sem trabalhar. Zeros a esquerda.
Este conceito tem que ser mudado. Tudo tem que ser encarado de forma correta. Encaremos um aposentado como aquele que merecidamente desfruta das regalias oferecidas após uma longa jornada de trabalho, jornada esta cheia de espinhos, de lutas, de tropeços, de vitórias, de tristezas e alegrias, e, que merecem antes do título de aposentado, a função que exercida em sua vida profissional.
Lembrem-se, amanhã vocês serão os próximos aposentados.
Não podemos e não devemos ser um “Zero a esquerda”.
Era o que tínhamos.
Que Deus nos abençoe.
Um abraço.
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