sexta-feira, agosto 04, 2006

COISAS QUE EMOCIONAM !

Caros Leitores.

Revendo os arquivos de nosso Botija Parda, encontramos um pôster da edição nº 67, de 22 de novembro de 1970. Foi uma edição tão significativa, que o Diretor do jornal, o saudoso Dr. João Domingos, resolveu transformar sua primeira página em pôster, para ficar devidamente registrada na história do jornalismo araguarino, acontecimentos de relevância e que não poderiam ser olvidados. Pelo contrário, deveriam, como estão, perpetuando coisas importantes, coisas que emocionam aqueles que têm a oportunidade de ler as matérias nele constantes.

Vamos aqui, para o deleite de vocês, narrar alguns fatos nele registrados: encontramos em manchete, a eleição do Dr. Milton de Lima Filho, com Dr. José Veloso de Araújo, como Prefeito e Vice no pleito eleitoral de outubro daquele ano. Miltinho e Dr. José Veloso, eleitos para governarem Araguari no mandato tampão de 1971 e 1972. Miltinho substituiu o então Prefeito, Fausto Fernandes de Melo.

Registra a edição em nota social, o aniversário da primeira dama, senhora Lourdes Vasconcelos Fernandes.

Em seu rodapé da página, traz também a lista de todos os candidatos a Vereador, com a votação de cada, dirimindo assim quaisquer dúvidas que pudessem surgir. Naquela época os votos eram cédulas individuais. Pela listagem, cada candidato conferiu o resultado de sua campanha e se eleito estava.

Mas, o que realmente nos chamou a atenção, e, pela relevância de seu conteúdo, foi a matéria escrita em sua originalidade para o “Estado de Minas” de 17/11/1970, tendo o Dr. João Domingos transcrito em destaque na íntegra, naquela edição.

Para o conhecimento dos caros Leitores, transcrevemos aqui na íntegra, o conteúdo da referida matéria, de autoria do Dr. Wolney Botelho, de saudosa memória, advogado que era e alto funcionário do Banco do Brasil na capital do Estado. Eis a mesma com o titulo:

“Telefone e Televisão”

Wolney Botelho

“Hoje já é possível falar, quase instantaneamente, sem interferência de telefonista, de Belo Horizonte, com aparelhos do Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador, Curitiba, Porto Alegre e outras cidades. É o advento do sistema de Discagem Direta à Distância, trazido pela Embratel para esta capital, a qual fica ligada às metrópoles citadas, desde agora e, em futuro próximo, a outros centros brasileiros, inclusive as principais do interior de Minas.

Acontecimentos como esse nunca são comentados com freqüência e o destaque que seria justo dedicar-lhes. É da nossa natureza a surpresa inicial, o encantamento primeiro e passageiro ante as novidades, para em seguida relegá-las aos arquivos da rotina, plano da consciência. Os subterrâneos da memória são ávidos sempre e sempre de sensações novas, não importa que sofrimentos, que vigílias, que fadigas, que enganos e desenganos tenham custado os saltos de progresso que o dia a dia registra.

Este é o século dos milagres e eles são filhos quase todos , da tecnologia.

Alguém chamar alguém em Recife ou Porto Alegre, no Rio ou em São Paulo, e tê-lo num instante junto de si, ouvindo sem demora a sua voz, como se centenas de quilômetros de distância simplesmente fossem transformadas em entendimento frente a frente.

É um milagre, em certa medida.

É preciso que a importância desse milagre seja repetida e seja exaltada. Mais ainda quando se considera que é a conquista técnica capaz de contribuir sensivelmente para atenuar os tormentos da famosa solidão humana, a qual se vê um pouco mais vencida, um pouco menos poderosa, cada vez que surge um instrumento que aumenta aproximação entre os homens, como é o caso da Discagem Direta à Distância. Na cerimônia de inauguração do sistema DDD, o presidente da Embratel falou também sobre os projetos para criação da televisão em cores no Brasil. Certamente a inovação não deverá vigorar em tempos muito próximos. Todavia, cumpre dar-lhe desde já o realce devido, pelo que representará, em termos de promoção humana. Enquadra-se no mesmo contexto benéfico e de elevado sentido, de que faz parte o sistema DDD. As cores da vida, reproduzidas no vídeo, conferirão às cenas uma autenticidade maior, às emoções uma verdade mais sensível. Servirá, o melhoramento, da mesma forma que o sistema DDD, para mostrar que o esquema de desenvolvimento nacional tem a marcá-lo o sentido precípuo da solidariedade humana, na medida que propicia a camadas sempre maiores da população, a participação efetiva nos benefícios materiais da civilização.

É política destinada a fixar o País uma imagem altamente favorável, para estímulo de quantos são otimistas, no plano interno, e definido esclarecimento dos que têm no Brasil um idéia deformada do exterior”.

(Transcrito do Estado de Minas, de 17/11/1970).

Caros Leitores, simplesmente fantástica a forma com que Wolney Botelho retratou acontecimentos inusitados para a época de então. O ano de 1970, foi um marco de desenvolvimento da tecnologia super avançada que hoje desfrutamos e que, a cada dia, cada momento, se desenvolve mais, fazendo com que tenhamos que trocar nossos equipamentos eletrônicos, constantemente para acompanharmos a tecnologia que se desenvolve tão rapidamente que mal temos tempo de nos adaptar aos que no momento funcionam.

Estivesse Wolney Botelho vivo hoje, estaria estarrecido, boquiaberto, estupefato, não acreditando no que é possível fazer neste mundo moderno, mundo que se desenvolveu espetacularmente no século passado, principalmente da década de 1950 para cá.

Assistimos recentemente na TV, um documentário na HBO, sobre os melhores filmes de ficção científica feitas em 50. Tal documentário foi narrado pelos cineastas que na ocasião eram crianças e que protagonizaram os mesmos. Citaram eles a precariedade de tecnologia para a realização de cada um, e, a perfeição que ficaram, deixando os que hoje os assistem, simplesmente pasmados com as realidades dos temas abordados. No documentário cenas de “O dia em que a terra parou”, a “Invasão da terra”, “O incrível homem que encolheu”, “A conquista da Lua”, com o fascínio de suas apresentações. A realidade da época com mensagens não de invasores da terra; não alienígenas, mas viagens em busca do saber, da tecnologia, do grande laboratório que é o espaço sideral.

Fascinado na época pela tecnologia do DDD e da promessa da TV a cores, Wolney Botelho transferiu para sua crônica, toda sensibilidade e emoção sentida por ele e pelos cidadãos da transformação pela qual passava a humanidade.

Da invenção do avião, o mais pesado que o ar voando, até a conquista da Lua, Marte, todo o espaço sideral vasculhado pela mão do homem, este ser insaciável pelo saber e pelo avanço da humanidade.

Em todos os aspectos da vida, terra, mar e ar, a tecnologia atingiu um ponto que podemos dizer, 80% da população ainda não se adaptou, e, dificilmente se adaptará, principalmente as pessoas de meia idade para cima. Esta tecnologia, atinge totalmente a população jovem do planeta. Estes sim a dominam. Crianças manejam máquinas complicadas, computadores sofisticados como se fossem brinquedos. Jovens elaboram estudos variados, o comércio, a indústria, a ciência em geral, desfrutam daquilo que conquistaram através destes poucos anos que se passaram desde a matéria de Wolney Botelho. Ao todo apenas 36 anos.

Um novo mundo surgiu. É o ciclo da vida.

Sugerimos ao Dr. Cláudio Henrique Levi Domingos, filho do saudoso Dr. João Domingos, atual Diretor do Botija Parda, a doação deste pôster que retrata aquela edição nº 67 de 22/11/1970, ao Arquivo Público, para que todos tenham oportunidade de ver a beleza da época retratada para a posteridade.

Coisas que emocionam.

Era o que tínhamos.

Que Deus nos abençoe.

Um abraço.

Um comentário:

Vera Vilela disse...

Parabéns! Uma ótima crônica. Como coisas que passam despercebidas por tantas pessoas acabam por inspirar um texto tão criativo e instrutivo. Assim é o escritor/jornalista captando no dia a dia o que a grande maioria das pessoas não dão o devido valor. Um pôster virando uma história.
Gostei muito!