Caros Leitores.
Década de 60. Anos Dourados. Domingo à noite.
Década de 60. Anos Dourados. Domingo à noite.
Terminada a primeira sessão do Cine Rex, saíamos pelas laterais da Travessa São Bento, acompanhados das namoradas, íamos pela Rio Branco até na Brasil Acioly, subíamos para pegar a Rui Barbosa.
Na esquina da Praça Manoel Bonito, lado de cima, defronte ao extinto Banco Comércio e Indústria de Minas Gerais,hoje Banco Itaú, banco este por onde passaram expoentes da sociedade araguarina, entre os quais citamos, José Chico, Jofre Araújo Guimarães, Oswaldo Marcelino da Silva, Wagner Mota, e outros tantos, ficava o “Quinquinha”, com seu carrinho de pipocas feitas na hora.
O nosso programa que se iniciava com a sessão cinematográfica, tinha sua seqüência com a compra de pipocas quentinhas, salgadas, feitas com carinho e esmero pelo já famoso “Quinquinha”, que dava crédito para sua clientela. Nunca deixou de receber um saquinho de pipocas sequer.
Seguíamos com todo o estilo que a época exigia, terno, gravata, fatiota completa para acompanhar a namorada que com elegância se vestia. Íamos até a Praça do Quebra Pedra, hoje Farid Nader, mais precisamente no Bar do Crispim, quando as pipocas terminavam e comprávamos sorvete para o retorno até a Manoel Bonito, vendo as belas vitrines das lojas, conversando com amigos, outros casais, saboreando os sorvetes que tiravam o sal das gostosas pipocas da boca, chegando de volta ao intenso movimento do “vai e vem” na Manoel Bonito.
Daí, seguíamos para a sede da U.E.A. – União dos Estudantes de Araguri, localizada na Afonso Pena, defronte hoje a UNIAPA, quando dançávamos ao som da eletrola, as músicas da “Jovem Guarda” e da orquestra de “Ray Conniff”, encerrando as 23,00 horas o belo domingo, quando então acompanhávamos as namoradas até suas casas.
De nossa geração e de gerações posteriores, difícil de se dizer quem não saboreou as deliciosas pipocas do “Quinquinha”, que tinha seu ponto fixo na esquina acima mencionada.
Conversando com o Quinquinha, ele se expressou da seguinte forma: “Peron, vender pipocas foi uma benção de Deus, pois com elas, que alegravam tanto crianças e adultos, consegui comprar um terreno e construir minha casa, sendo que nela trabalhei também como pedreiro.
O madeiramento comprei do senhor Marcionil, e finalmente a casa ficou pronta”. Foram 22 anos vendendo pipocas, das 17,30 horas até às 22,00 horas, aos sábados, domingos e feriados. Participei de todas as festas de igrejas, circos, parques de diversões, quermesses e até comícios políticos de então.
De 1958 a 1980, trabalhei duro, paralelo à minha profissão de sapateiro. Continuou dizendo: com o ofício de sapateiro criei minha família, com as pipocas consegui minha casa para abrigá-la. Uma grande e prolongada luta que valeu a pena.
Quinquinha ainda nos lembrou que no início, não existia o botijão de gás, sendo que ele mandou fazer um cilindro onde armazenava gasolina que através de uma bombinha, fazia pressão para o fogareiro onde eram feitas as pipocas, em uma grande panela de alumínio com uma tampa. Tinha um varão com uma manivela para mexe-las, não deixando assim nenhum “piruá”, grão sem arrebentar.
Aí, caros Leitores, Quinquinha, rodeado de fregueses e amigos que ouviam nossa conversa em sua sapataria, contou-nos sobre sua vida profissional.
Em 17 de novembro de 1934, com 9 anos de idade, começou a trabalhar como ajudante e aprendiz de sapateiro, no Curtume Sica, do saudoso senhor Paulino Abdala, juntamente com o José Mota, antigo funcionário da Goiás. No Curtume existia uma fábrica de calçados.
Posteriormente, saiu do Curtume em 1939 e veio com o seu amigo, Elias Isaac, um sírio-libanez, para a rua João Peixoto, nº 37, onde foi um sacolão. Permaneceu como aprendiz até 1942 (ano em que nascemos) com o Itajiba Rosa, grande profissional que o aperfeiçoou na profissão.
Narrando sua história, Quinquinha continuou: surgiu na minha vida, o João Monteiro, tio do Oswando dos Santos Monteiro, que me passou para “sapateiro” e juntos fomos para a Av. Joaquim Aníbal, defronte o boteco de frutas e verduras da dona Deoclésia (hoje padaria), no prédio onde funcionou uma pasteurização de leite do Skaf, sendo o prédio atualmente do senhor Garibalde Carpaneda.
Sempre crescendo, montaram então a sapataria na rua Municipal, posteriormente rua Goiás e atual Cel. José Ferreira Alves. A oficina era na esquina com a Bias Fortes, onde funcionou por longo tempo os escritórios do senhor Genésio de Moura. Depois foi bar, clínica veterinária e várias finalidades.
Em 1945, João Monteiro em sociedade com Antônio Alves, montaram a fábrica de calçados “Minas Goiás”, lá na rua João Peixoto, antigo local onde iniciou como aprendiz. Lá foi o Quinquinha como Encarregado das Oficinas da Fábrica, sendo o senhor Eurides Silva (lembram-se dele ?). Gratas recordações de uma bela Araguari.O senhor Benedito Coutinho, em 1948, convidou o Quinquinha para vir trabalhar em sua sapataria, início da rua Dr. Afrânio, esquina da Praça da Matriz, defronte ao Bar do Adelino, hoje, Bar São João. Quinquinha aceitou e dirigiu a sapataria de 1948 a 1964.
Em 17 de novembro de 1964, nosso amigo tornou-se independente, montando sua pequena e eficiente sapataria na rua Jaime Gomes, nº 314, defronte as antigas oficinas Ford, do tempo do França e Cia., com o Joel, Arsênio Comparini, Marcondes Ungarelli e outros, entre as ruas Rodolfo Paixão e Afonso Pena. Prédio este onde funcionou vários estabelecimentos, hoje se encontra vago. Neste local, Quinquinha se encontra até hoje, sempre alegre, rodeado de amigos, fregueses, e de quem gosta de ouvir coisas e fatos do passado.
Em 8 de março deste ano, Quinquinha completou 83 anos de idade, sendo dos mesmos, 70 trabalhando ininterruptamente. Como “pipoqueiro” 22 anos paralelos, proporcionando além de sua casa própria, alegria e diversão aos araguarinos. Como sapateiro, criando sua família que só lhe trouxe alegrias. Permaneceu casado com a saudosa senhora Maria Alves de Freitas Oliveira, nada mais, nada menos que 51 anos. Se refere a ela com alegria e os olhos merejados de lágrimas. Uma união concretizada em 27 e julho de 1946. O desenlace se deu em 05 de setembro de 1997, quando Deus a chamou.
Deste casamento adviram 4 filhos: Vera Lúcia, Wagner, Lúcia e Lucimar. Os filhos proporcionaram a eles até o momento 7 netos e 2 bisnetos.
Assim caros Leitores, narramos um pouco sobre a vida de “Quinquinha”, “Joaquim de Oliveira”. Homem simples, trabalhador, honesto, humilde, amigo leal, excelente e honrado profissional.
Quando íamos saindo de sua sapataria após encontro tão saudável, Quinquinha nos disse: Peron, joguei muito futebol, tanto na primeira como na segunda divisão.
Joguei com Karim Daher, Pacu, Pacuzinho, Michel Rade, José Daher, Lizote, Luizinho, Tim Marques e outros. Joguei no Araguari e no Mangueira (Alto da Floresta, hoje Praça Tereza França de Lima).
Fui campeão no Carnaval de 41 como baliza do bloco “Ás de Ouro”. O campeão mesmo foi o bloco “Bando da Lua”, do Antônio Bento. O Antônio Da Nina (e dele, vocês se lembram ? Fiscalizava o Rex e era da Delegacia) tinha o “Bloco do Amor”.
Assustados dissemos: Quinquinha, nós nem éramos nascidos !!!
Era o que tínhamos.
Que Deus nos abençoe.
Um abraço.
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