Vamos hoje, narrar a vida de um profissional, profissional liberal, cuja profissão está se encerrando aos poucos, no decorrer dos anos, lentamente, porém está se encerrando.
Trata-se da profissão de “Barbeiro”.
Na realidade, são poucos os salões de “Barbeiros” que encontramos pela cidade. A nova geração está encontrando os “Cabeleireiros”, que gradativamente ocupam o espaço usado pelos “Barbeiros” no decorrer destes longos e longos anos que o tempo levou em sua algibeira. Com eles histórias fantásticas que ainda ouvimos quando de um corte de cabelo em seus simples, mas asseados “salões”, onde com suas hábeis mãos, dominam uma tesoura ou uma navalha, fazendo-nos o cabelo ou a barba.
Falaremos hoje do homem que tem seu nome estampado no titulo de nosso Ponto de Vista.
Júlio Lourenço de Souza.
Nasceu em 1934, em 14 de outubro, aqui mesmo em Araguari. Irá completar este ano, 74 anos de vida.
Filho adotivo de Otávio Fernandes, pois perdeu o seu genitor quando tinha somente dois meses de vida, herdando dele o nome, honrando e dignificando por toda sua existência. Sua mãe, Maria Sebastiana dos Santos.
Com 14 anos de idade, iniciou-se na profissão como aprendiz, juntamente com o quem o criou, com seus 3 irmãos: Joaquim Quintino Fernandes, Idelmino Fernandes (Tisouri) e Geraldo Fernandes. Isto em 1948, na antiga rua Esperança, hoje Cel. Pólvora, ao lado do Armazém do Cláudio Arantes, irmão do saudoso Biloca.
Seus mestres foram, seu pai Otávio, que o criou, e, o irmão Joaquim.
Em 1950, já com 16 anos e profissional no ofício, veio para a rua Rio Branco, esquina com a rua Afonso Pena, no porão da casa do Sadala Calil Daher. Lá trabalhou com o famoso Beijinho, Benjamim Corrêa da Silva, até 1964. Foram 14 anos de labor.
Formou sua freguesia, homens de negócios de nossa terra. Crianças e jovens também acorriam a ele para um corte de cabelo perfeito.
Em 1964, juntamente com Joaquim Chaves, Sílvio Matos Camões, Vicente Firmino da Costa e Nelson Marques, montaram o que tornou-se famoso com o tempo, “Salão Marabá”, na rua Rio Branco, em um dos cômodos do prédio recém construído pelo senhor Marinho Bittencourt, sob o Escritório de Advocacia dos Drs. Eduardo Brasileiro e Calil Canut, ambos seus fregueses, na época, logo ao lado do Cartório do Fabinho Bittencourt.
Os anos passaram, atividades incessantes, freguesia formada e sempre aumentando, famílias se constituindo.
Tudo tem seu fim, e este fim chegou para o Salão Marabá.
Alguns dos componentes, por motivos vários, aposentadorias, mudanças, outras atividades, deixaram a sociedade, fazendo com que o salão encerrasse suas atividades.
Nosso protagonista não desistiu. Tinha família para tratar e uma vida pela frente.
Passou a mão em uma pasta, colocou nela todos os apetrechos necessários para o exercício da profissão, e, durante dois anos trabalhou atendendo sua freguesia de porta em porta. Passou a atender a domicílio. Isto veio a aumentar-lhe o número de clientes, uma vez o conforto do atendimento caseiro. Tanto por necessidade dos mesmos, doentes que se encontravam ou com o excesso de afazeres que lhes impediam a ida até um salão.
Estas andanças pela cidade trouxe-lhe o cansaço. Eram clientes nos diversos pontos da cidade. A pé ou de bicicleta, Júlio, conhecido também como Julinho Barbeiro, resolveu novamente se estabelecer.
Em 1982, abriu um novo salão, no prédio do senhor Hamilton Rocha, na rua Virgilio de Melo Franco, esquina com a Cel. José Ferreira Alves. Permaneceu no local até 1990. Foram mais 8 anos de trabalho em sua carreira. Lá atendeu amigos e clientes inesquecíveis.
Em 1990, resolveu transformar a garagem de sua residência, na rua Ângelo Lasafá, n° 74, em salão de barbeiro. Para isto, fez todas as modificações necessárias, passando a atender em um amplo salão, dotado de equipamentos modernos.
Os clientes, fregueses, fiéis clientes e fregueses, não o deixaram nunca. Passaram a freqüentar o novo salão assiduamente, proporcionando ao Júlio, dias melhores e maior conforto para ele no dia a dia. Foi um descanso atender em sua própria casa.
Em 2000, resolveu tomar novos rumos, Mudou-se para a rua Afonso Pena, n°267, onde permaneceu por 3 anos. Achando o cômodo acanhado para a freguesia fiel, resolveu mudar-se para a esquina com a rua Jaime Gomes, no n° 319 da Afonso Pena, onde encontra-se até hoje no batente diário.
São 60 anos de profissão. São 60 anos de lutas pela vida. São 60 anos que no decorrer dos mesmos, criou e encaminhou na vida seus 6 filhos, Júlio César de Souza, funcionário público em Uberlândia, pais de 6 filhos; Reginaldo de Souza, comerciante em Araguari, 2 filhos; Rosângela Aparecida de Souza, bancária, casada, 2 filhas; Juscelino de Souza, taxista, casado, 2 filhos; Nei Robson de Souza, comerciário, casado, 1 filho e Neiton de Souza, casado, uma filha, residente em Porto do Paranaguá-PR.
É casado com a senhora Terezinha Rosa de Souza, há 52 anos. Avós de 14 netos. Uma grande família, fruto do trabalho honesto, de uma profissão que se encontra em extinção.
Júlio, gosta de ser chamado de “Barbeiro”, pois trabalha com a máquina de cortar cabelos, com a tesoura, o pente, a navalha, cobrindo o cliente com a tradicional toalha para o famoso corte de cabelos.
Em sua cadeira tradicional, recostável, reclinável para a barba, com cadeirinha para crianças, Júlio Barbeiro tem uma legião de fregueses, fiéis e mensais. Nós inclusive somos um deles. Há mais de 32 anos nos sentamos na cadeira, cortamos o cabelo e ouvimos suas histórias de Araguari que viveu em diversas ocasiões.
Gente famosa, gente simples, passaram e passam pelas suas mãos habilidosas. Dos Estados Unidos, Dr. Luiz Pereira de Melo, filho senhor João de Melo, sempre que aqui vem, procura pelo Júlio para o corte tradicional. O Cel. Belizário Rodrigues da Cunha foi seu freguês. Dr. José Jehovah Santos também. Cel. Theodolino Pereira de Araújo sempre lá estava. Theodoreto Veloso de Carvalho, Vilazito Gonçalves, Firmato Nogueira, Paulo Nogueira Cruvinel, Genu Nogueira, Ovídio Nogueira, Hamilton Rocha, Milton Lemos da Silva, Guaracy Faleiros Machado, Nelson Merola, Fernando Merola, Gerson Silva, Jaime Silva, Marinho Bittencourt, Dr. Ranulfo Cunha, Celso Batista dos Santos (do radiador), Carlos Alberto Nunes, Anselmo Duarte, Francisco Egídio, José Ferreira de Melo, David Abdala, Chiugo Alaó, Hermínio Carraro Willian Rady, que vem de São Paulo para o corte tradicional, e uma legião de cidadãos araguarinos que ao salão acorrem mensalmente ou duas a três vezes por semana para uma barba, fazem a tradição e sobrevivência deste fantástico homem que hoje destacamos em nosso Ponto de Vista, valorizando e distinguindo sua profissão, profissão que honrou, honra e que lhe proporcionou a sobrevivência, assim como de todos os seus familiares.
Dentre os clientes, fregueses que citamos, muitos são de saudosas memórias. Outros se encontram entre nós. São testemunhas da vida honesta de nosso homenageado.
Distinto e honrado, Júlio Lourenço de Souza.
Era o que tínhamos.
Que Deus nos abençoe.
Um abraço.
Os homens pertencentes à nobreza e os guerreiros, apresentavam cabelos compridos, sustentados por faixas, correntes ou condecorações. Os adolescentes copiavam os penteados de Apolo e Arquimedes, enquanto os velhos e filósofos usavam cabelos longos e barbas densas, como símbolo de sabedoria. As barbas e bigodes eram cortados com ponta de lança, à imagem de uma sociedade de gladiadores.
Os escravos, que não se distinguiam dos homens livres, apresentavam cabelos curtos e lisos, não se permitindo barbas nem bigodes. Nas antigas culturas, quem pegasse na barba ou cabelo de uma pessoa, era severamente punido, pois significava um atentado à honra e uma intromissão em sua psique. Assim, a profissão de barbeiro foi associada à manutenção da saúde física do indivíduo.
Os salões dos barbeiros ofereciam também banho quente, sauna e massagem, cortavam unhas dos pés e das mãos e também respondiam pela saúde do indivíduo, entretanto, esses os serviços eram pagos pelo público. A sangria era um lucrativo setor desse ofício. Nos séculos XVI e XVII, os barbeiros foram acusados de praticar a sangria despudoradamente.
Só no século XIX, o oficio de médico e de cirurgião dentista foi separado da profissão de barbeiro, porém, alguns continuaram a atuar como dentista até bem pouco tempo. No século XX, surge a figura feminina nos salões de barbeiros, tanto no exercício da profissão quanto na clientela. Os salões tornaram-se unissex e parece que essa tendência veio para ficar por muito tempo.
Um comentário:
caro amigo,
achei delicioso ver o nome do papai ( Ranulpho Cunha) inscrito entre os fregueses da barbearia do Júlio, assim como fiquei olhando demoradamente os nomes do pessoal do Tiro de Guerra... Lembrei-me de muitos.Que maravilha ter alguém como você que nos remete a um passado, que não está tão longe assim, que faz parte de nossa vida real , que a gente mesmo pensa desconhecer...até relembrar tudo nos seus escritos. Obrigada, Peron, por guardar de maneira tão gostosa, a nossa memória. Um abraço carinhoso.
Marilia
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