Neste Ponto de Vista vamos relembrar uma conversa que tivemos com o amigo Ormindo Peixoto, marceneiro, carpinteiro de renome em nossa cidade e nosso amigo e colega de Tiro de Guerra, pelos idos de 1961.
http://peron-erbetta.blogspot.com/2008/04/tiro-de-guerra-57.html .
Após os cumprimentos de praxe, passamos as lembranças de um passado lindo, pois ambos vivemos os anos dourados, desfrutando seus detalhes.
Foram festas, viagens, bailes, eventos vários, excursões, cantores hoje idolatrados até no exterior (desnecessário se faz aqui falar de Roberto Carlos).
Estes faziam os momentos de cada um, pelo rádio principalmente, uma vez a televisão não era acessível a todos e ainda estava engatinhando. Foram momentos agradáveis que passamos relembrando “os bons tempos”.
Simultaneamente e de forma natural, escutávamos também as pessoas conversando no recinto, ao mesmo tempo em que faziam suas compras, onde “diziam” umas as outras:
“Como vai, como tem passado?”
“Ah, não está bom não, ando com uma dor danada nas costas que não tem jeito.”
“Passou bem a noite?”
“Puxa vida, não dormi nada, virava para um lado, virava para o outro e nada. Acho que aquele tombo que levei na escada lá de casa estragou qualquer coisa em mim”. (mas ela estava toda esbelta)
“Pois é menina” (maneira carinhosa de dizer para uma senhora dos seus 60 anos) “também estou uma coisa custosa. Uma dor de cabeça que não me deixa fazer nada” (pelo semblante nada sentia).
Outra senhora com sua obesidade exagerada, ao adentrar no recinto, subindo o degrau, já resmungou para que todos ouvissem, com uma voz rouca e tossindo feito louca, com um cigarro na mão:
“êta vida custosa, não posso comer um pouquinho mais que vem logo esta gordura que tanto me incomoda e faz com que eu tenha que fumar muito para emagrecer” (mais tosse de pigarro e aquele fumação dentro do recinto que todos reclamaram do cheiro desagradável do cigarro).
E nós que fumamos por 41 anos ininterruptos. Também já falamos a respeito, até escrevemos. Nunca soubemos que o cigarro faz emagrecer.
Chegou outro freguês de bermudas, à vontade, queixando-se que havia tomado nove latinhas de cerveja e parecia que seu fígado estava incomodando demais (as cervejas não tinham culpa nenhuma foi porque comeu carne de porco).
E assim foram várias as pessoas que pudemos presenciar chegando, comprando, conversando na padaria, indo embora e deixando seus problemas digamos assim, “lá no balcão”, em desabafos que fizeram com seus conhecidos.
Não restam dúvidas, para nós foi um acontecimento deveras interessante e motivo de uma profunda e benéfica reflexão, pois tiramos muitas conclusões.
Nós que já estamos mais para os 70 anos do que para os 60, e podemos ao acordar levantar, ir ao banheiro sozinho, sem ajuda de ninguém, fazer nossa higiene, nos vestirmos, sair até o quintal, ver a beleza das plantas, dos pássaros, da chuva ou do sol.
Caminhamos pelas ruas, encontramos amigos, conversamos, e nos lembramos de tanto que temos e que por vezes não sabemos valorizar.
Isso por ser tão corriqueiro o uso e desempenho das funções, para quem nada sofre que não percebemos o tempo passar.
Aí sim, poderemos dar um pouco de valor a preciosa vida que temos, nos educarmos, não queixarmos de coisas insignificantes.
Só mesmo quem já cuidou de um ente, em sua velhice ou doença, na cama, em uma cadeira de rodas, acidentado ou pela idade avançada, pode avaliar o que é gozar de uma saúde. Mesmo que não seja perfeita, que tenha seus probleminhas, relevantes e toleráveis.
Só mesmo esta pessoa pode avaliar a benevolência do Grande Arquiteto do Universo, em sua infinita sabedoria, fazendo com que nós, criaturas de seu mundo, passemos pelo ciclo da vida.
No momento que nascemos dependemos de outros para a sobrevivência, aí vem a infância, nossa juventude, a maturidade, a velhice, e o retorno aos cuidados de nossos semelhantes.
Assim como quando nascemos, voltamos a depender da presença indispensável de outros para nossa sobrevivência.
Isso nos fez lembrar do saudoso Osmar de Carvalho (o Osmar Bagunça), grande amigo que dizia:
“Não quero jamais ir parar em uma cadeira de rodas ou em uma cama.
“Não gosto nem de pensar em ficar na dependência dos outros, sentado numa cadeira de rodas lá na sala, os meninos passando, dando beliscões, tapas na cabeça.”
“E ainda ouvindo dos outros, está na hora do banho do Osmar (aí Jesus que sacrifício) ou se pior numa cama, esfregando toalhas molhadas quando de um banho, dando aquele trabalho e sofrendo o desnecessário além de fazer os outros sofrerem.”
Era a filosofia do Osmar.
Saudades do grande amigo Osmar de Carvalho, o Osmar Bagunça (interessante, até hoje não o homenagearam com seu nome em uma rua da cidade, e ele fez muito por ela).
Mas aí caros Leitores, damos Graças das bênçãos recebidas diariamente de Deus, achando tudo ainda mais belo do que antes.
É muito bom lembrarmos sempre e agradecermos, por tanto que recebemos contra tão pouco que damos.
Motivo de nosso Ponto de Vista de hoje, “Obrigado Senhor”.
Que Deus nos abençoe.
Um abraço.
4 comentários:
Neste domingo de muito sol e céu esplendidamente azul, nada melhor que passar por aqui e ler as suas histórias sobre Araguari e nossa gente. Mas o melhor mesmo é sentir que você está na luta, resignado e agradecido a Deus, apesar dos problemas momentaneos de saúde. Como sempre, faço votos para a sua breve recuperação.
Agora, venhamos e convenhamos: o editor de seu blog (o Fernando ou o Júlio - não consigo lembrar qual dos dois) é nota 1000. Que belas postagens ele tem feito para você. Essa em especial, mostra um grande trabalho de pesquisa. As ilustrações e o vídeo tornam a leitura mais saborosa e compreensiva de seu relato.
Parabéns a vocês!
Quando tiver oportunidade, lembre ao editor (Fernando ou Júlio) sobre os macetes para blogar que pedi a ele.
Abraços.
Caro Aloísio.
Ficamos felizes em saber que aquilo que escrevemos tráz alegria aos nossos leitores.
Realmente, enfrentar esta doença cruel e traiçoeira, é tremendamente difícil.
Interpretamos que nós fomos um dos escolhidos por Deus para passar por ela. E isto, procuro transmitir aos demais doentes que encontro nos caminhos da vida, em especial àqueles que encontro na Clínica onde tratamos. É a vontade de Deus, que ela seja feita.
Quanto ao editor, trata-se do Julio, meu filho que se encontra em Belo Horizonte, e todo trabalho é feito lá.
Ele irá atendê-lo.
Muito obrigado por tudo e um forte e tríplice abraço.
Peron Erbetta.
Peron,
Como sempre perfeito.
Ler seus artigos é conhecer uma história que não consta em livros, mas está viva na sua memória e que me faz relembrar, também, de ocasiões parecidas que eu vivenciei.
Obrigado.
Alessandre Campos.
Peron, estou sempre à espreita do seu "Ponto de Vista". Como um ingrato de carteirinha, posso não postar comentários, mas estou sempre presente. Vejo que, apesar de pertencermos a gerações diferentes, porém próximas, temos personagens de vida em comum, como no caso agora o Osmar Carvalho, o Bagunça. Sujeito resolvido, tomador de Uisque dos bons no Bar do Bolinha, onde eu trabalhava. Servi-o por diversas vezes e o falastrão impressionava de verdade. Vendia carros como alguém que vende pipoca. O filho dele, o Serginho, foi meu soldado aqui no trecho, em Goiandira e herdou o poder de decisão do pai. Anda emaranhado nos fios da Política e, achando um rumo, poderá mudar muitos destinos!
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