domingo, março 30, 2008

UM CIDADÃO ARAGUARINO

Caros Leitores.

Hoje, resolvemos prestar uma homenagem, a um cidadão que há 57 anos, vem colaborando com a juventude menos favorecida de Araguari. Pelo mesmo período, vem servindo aos araguarinos de uma forma humilde, porém de grande valia para aqueles que o procuram. Um cidadão que sem qualquer sombra de dúvidas, proporciona satisfação nos bons serviços prestados à comunidade.

Estamos nos referindo ao que no Ponto de Vista de hoje, empresta seu nome como título. Rendemo-lhes nossas homenagens, pelo simples e humilde homem que é. Pelos relevantes serviços prestados à juventude, encaminhando-os na vida, assim como aos cidadãos servidos por ele e seus funcionários.
Argentino Augusto de Oliveira.
Como ? Vocês não sabem de quem se trata, caros Leitores ?
Simples. Vamos identificá-lo melhor, para que possam conosco, acompanhar sua longa e produtiva jornada de trabalho.
Ele, o homem do qual nos referimos, trata-se do:
“NENZINHO ENGRAXATE”

Identificaram-no ? Já sabem quem vem a ser o Argentino ?

Então falemos um pouco a respeito do mesmo:
“Nenzinho”, nasceu em 22 de fevereiro de 1933, aqui mesmo, em Araguari. Estará completando 71 anos de idade, sendo destes, 57 anos dedicados à arte de engraxar sapatos. “Nenzinho Engraxate”.

Iniciou sua carreira, com 12 anos de idade, com uma caixa de engraxate nas costas, circulando pelas ruas da cidade perguntando ao transeuntes: vai graxa, meu amigo ?
Com 14 anos, em 1947, passou a trabalhar na Engraxataria Central, que ficava ali, na rua Dr. Afrânio, 161, entre a Casa dos Ferros e o Armazém Central, do Vicente França e de Olympio Ferreira da Silva.

Em setembro de 48, após trabalhar como empregado por um ano, adquiriu de José Luiz Torres, a engraxataria, que contava com 4 poltronas estofadas em veludo vermelho. Conforme ele, pagou pela mesma, 250 mil réis em suaves prestações mensais. Com ela quitada, aumentou o número de poltronas, passando para 8, novinhas e reluzentes.

Ainda criança que éramos, lembramo-nos dele e da garotada que com ele trabalhava, a partir de 1950, pois a engraxataria era defronte a Cia. Prada, local de trabalho de nosso pai e onde ficávamos quando livres da escola. Achávamos o máximo ele e os meninos no exercício da arte de engraxar. Sapatos luzidios e reluzentes. Charme de sempre. Inclusive existe o ditado: "conhecemos um homem pelos sapatos que usa". E Nenzinho com sua turma, fazia o serviço com esmero.

Na Dr. Afrânio, Nenzinho permaneceu até 1965, quando por motivo de ampliação do prédio, teve que mudar-se para a Praça Manoel Bonito, nº 92, onde era a agência da VASP, posteriormente funcionou uma loteria esportiva montada pelo senhor José Soares, dentista, tendo sido também de Terezinha Campos. Lá, permaneceu por um ano, tendo mudado para o lado oposto da Praça, nº 99, onde ficou de 1966 a 2001.

Em 2001, também por motivo de modificações no prédio, mudou-se para a rua João Peixoto, nº 105, defronte ao Clube Recreativo Araguarino, onde se encontra até o momento, com seu trabalho humilde, honesto e digno, completando seus 57 anos de atividades, com a “Engraxataria Elite Lustro”.

Calcula “Nenzinho”, que no decorrer destes longos e produtivos anos, centenas e centenas de garotos, jovens em busca do trabalho, passaram pelas suas mãos.

Com ele aprenderam o ofício, satisfazendo os fregueses, tanto com o respeito dedicado a cada um, como com a presteza dos mesmos.

Emocionado, “Nenzinho” se lembra de uma turma de engraxates que com ele permaneceu por longos anos. Muitos nós conhecemos e temos gratas recordações.

Com lágrimas nos olhos, o Argentino, ou melhor, “Nenzinho”, cita os nomes de Zé Petisqueira, Pica-pau, ambos de saudosa memória, do Major (irmãos Edson e Hélio). O Major ainda possui uma cadeira de engraxate remanescente no local da Dr. Afrânio, junto ao salão de barbeiro do Celinho.

Lembrou-se também do José Simão, hoje Mestre de Obras e Construtor lá em Goiânia. Do Arnaldo de Oliveira, proprietário da Editora Del-Rey, em Belo Horizonte. Do Dr. Delfino da Costa, médico e Diretor de um hospital também em Goiânia. Dr. Delfino era irmão do saudoso Eurípedes do Preventório, motorista e auxiliar administrativo no tempo da senhora Olga Daher.
Lembrou-se também do Abadio e do Jair, ambos hoje profissionais da mecânica pesada.

Enfim, desabava “Nenzinho”, todos os garotos e rapazes que passaram pelas minhas mãos, se tornaram alguém nesta vida. Não me recordo de nenhum que se enveredou pelo mau caminho. Procuro sempre continuar com o mesmo sistema com os que trabalham comigo atualmente. Sinto muito orgulho disto, disse com os olhos merejados de lágrimas. Lágrimas de emoção. Emoção de uma longa jornada, de uma missão cumprida.

Em 2000, foi agraciado com o Diploma de Honra ao Mérito, em festividades da qual a Prefeitura participou. Ostenta no recinto da engraxataria o mesmo com muito orgulho.

Muito zeloso e caprichoso com tudo que possui, “Nenzinho” adquiriu da família do saudoso Sílvio Rosa, ex-gerente da Caixa Econômica Federal, a “Opala 1972”. Aos domingos pode ser visto passeando pelas ruas da cidade no belo carro, desfrutando de mais uma semana de trabalho.
Em 1958, casou-se com Neuza Resende, a dona Neuza, quitandeira famosa, por longos anos na Praça Manoel Bonito, nº 95, “Lanches Elite”, 18 anos. Hoje na Cel. Theodolino Pereira de Araújo, 1258, prédio próprio, fruto de anos de labor na arte de quitandas e salgados.
Pai de 4 filhos, Airton, Marineuza, Marilúcia, Almir. Avô de 3 netos, Ana Carolina, Augusto e Samuel.

“Nenzinho”, vive feliz em seu trabalho. Com a escova na mão, rodeado pelos funcionários, dedicados engraxates, amigos e fregueses.

Orgulha-se e com razão de sua profissão.
Vejam o que diz o site Terra Brasileira sobre esse ofício:
A tradição oral napolitana remete ao ano de 1806 o nascimento do ofício de engraxate, quando um operário poliu em sinal de respeito às botas de um general francês e foi recompensado com uma moeda de ouro por isto. O engraxate itinerante tinha uma caixa ao ombro contendo verniz, escovas e espanadores; na cobertura da caixa tinha uma armação de madeira para apoio dos pés alternadamente. Os engraxates, em local fixo, tinham poltronas enormes, quase dos tronos, com cromado dourado e tapeçarias de veludo vermelho. Os engraxates trabalhavam das oito da manhã as oito da noite, com uma breve pausa, ao meio-dia, para o almoço. Eles ficavam, principalmente, nas esquinas dos cafés; nos lugares mais movimentados. Durante a Segunda Guerra Mundial, no período da ocupação anglo-americana, apareceram os “sciusciàs”, garotos que para ganhar qualquer coisa lustravam as botas dos militares, além de terem cópias de jornais, goma de mascar e doces. As condições de vida e a luta diária para a sobrevivência destes jovens são descritas magistralmente por Vittorio De Sica em “Sciuscià” (filme de 1946). Ao término da guerra desapareceram o sciusciàs e também os engraxates de Nápoles, no início dos anos cinqüenta eles eram apenas mil. Hoje em dia, caminhando pelas ruas napolitanas, ocasionalmente, pode-se encontrar algum.

Exemplo de vida.
Era o que tínhamos.
Que Deus nos abençoe.
Um abraço.
Fotos: Arquivo pessoal / ilustrações

5 comentários:

Anônimo disse...

Peron:

Ví seu blog, feito com muita sensibilidade.
A história do " Nenzinho " engraxate é emocionante.
Há pelo menos 30 anos que meus sapatos são engraxados por êle.
Sempre que lá vou, agrada-me ouvir suas passagens.

Mais uma vez, Peron, meus parabens pela qualidade de seu blog.

TFA,

Wiliam.

Anônimo disse...

Ei Peron, bom dia!

òtima a matéria do "ilustre engraxate". Eu não sabia que o nome dele é Argentino.

Parabéns pelos resgates!!!

Um forte abraço,

sândra

Anônimo disse...

Sr.Peron bom dia, bem lembrado e merecido a matéria ficou excelente e o blog esta dez, meus parabéns.

Odon

Anônimo disse...

"Respeitável Irmão Peron,
S.:F.:U.;

Seu blog, precisa ser divulgado a toda nossa comunidade, é um resgate a nossa história, que deve ser perpetuado às gerações futuras....
Aqueles que participaram , lembram com saudosismo e orgulho, e os que estão chegando e estão por vir, aprenderão um pouco de nossa Araguari.
Seria muito interesante, que nossos jornais locais, divulgassem o conteúdo de seu blog, em pequenas matérias, sobre nossa história.

Seria interessante que pudésseis efetivar palestras nas universidades, contando os "causos" e com recurso audividual , mostrando as fotos de seu blog....temos a UNIPAC SEMPRE TÃO PRESTATIVA....
Quem não valoriza o passado, certamente não verá o futuro...
T.:F.:A.:

Gustavo Velasquez Santos
Oriente de Araguari MG "

Anônimo disse...

Emocionante!Meu tio Eduardo Calil Daher sai de Uberlandia para levar dúzias de sapatos p/ o Nenzinho ou seria para matar as saudades de um tempo que se foi mas ficou em nossos corações...Aloisio