segunda-feira, janeiro 05, 2009

Uma coisa puxa a outra

Caros Leitores.

Recebemos esta bela mensagem de um amigo de infância.

A amizade formada, permanece viva nos dias atuais.

Ele vem a ser o Ten. Cel. da U.S.Air Force e médico, Dr. Carlos Wanez Menino Bedrossian.

Fez o curso primário conosco, lá no Colégio Santa Terezinha.

Residia a princípio na rua Padre Lafaiete, abaixo do Cine Lux.

Posteriormente, onde hoje é a garagem do Orsi Hotel, onde existia a loja de calçados Casa Nova, de seus pais e residência dos mesmos.

Encontra-se hoje de férias em Brasília, porém, desde sua juventude, reside nos Estados Unidos, onde fez sua brilhante carreira.

Assim sendo, emocionados e envaidecidos, transcrevemos abaixo a referida mensagem que além de tecer comentários sobre a Usina Piçarrão, narra uma bela e saudosa história de sua juventude em nossa terra, juntamente com nosso amigo Neiton de Paiva Neves, e, diga-se de passagem, de quem não se esqueceu de Araguari.

Assim, o amigo Carlos Wanes escreveu:

"Fernando:

Gostei demais do seu material sobre o Piçarrão que vi reproduzido no Jornal de Araguari. Nao resisti. Enviei uma postagem imediatamente para o Jornal. Ainda nao apareceu. Talvez Vc. queira resgata-la e postar no seu blog.

É impressionante como Voce e eu reagimos de maneira quase identica ao potencial representado pelo Piçarrão.

Se o lugar atraia nos anos 40, 50, etc, do seculo passado, os atrativos não vão desaparecer nos anos 10, 20 de nosso seculo.

Poderia ate servir de polo para a cidade crescer “do lado de la” da BR-050.

Antevejo uma area de lazer, bem planificada, conservando os acidentes geograficos, como pequenas lagoas, aglomerações de árvores, conjuntos de pedras e outras belezas naturais da regiao.

Tudo isto existe em volta da cahoeira, que agora fica no meio de nada, quando poderia ser o centro de muito. Turismo, lazer, esportes, movimento, alegria, confraternizações. E é claro, o comercio, serviços e outras atividades economicas nao deixariam de brotar e impulsionar a regiao.

É impressionante a clareza com que eu segui os seus incentivos tao sensatos de como realizar os potenciais do Piçarrão. Isto ficou mais reforcado ainda pois estou em Brasilia de ferias, onde visitei pela primeira vez em 1958, ano em que “estreei” no Centro Academico, como orador, fazendo um discurso sobre a nova capital.

Foi incrível minha emoção ao ver, pelo alto da torre, o sonho de JK. concretizado meio seculo depois Pensei logo na sua visao para a regiao do Piçarrão e imaginei como ela poderia fruir.

Tambem remontei-me aos velhos tempos na nossa querida Araguari.

Lembrei-me logo de uma parceria entre o Neiton e eu que talvez seja interessante para os seus leitores. Vou relata-la, mas peço-lhe que obtenha permissão do Neiton antes de a divulgar, caso Vc considere a historia interessante. Melhor ainda, solicite-lhe diretamente a sua contribuição, que com certeza tera uma riqueza de detalhes maior do que a minha.

Trata-se de um programa de radio estudantil, que o Neiton criou na fase áurea da U.E.A.(União dos Estudantes de Araguari), quando além dele, era também ativo um outro futuro prefeito de Araguari, o Miguel Domingos Oliveira, a quem entrevistamos, entre muitas outras personalidades

Alem dos lideres estudantis da epoca, passaram pelo programa: Euclesia Moura, nadadora campea brasileira. Ronaldo Nocera: batuta da melhor orquestra de Araguari; Da Odete Alamy, exímia profressora de piano; Ze Macaco, jogador de futebol, que tivemos de tratar de “Rodrigo”. Envio-lhe esta narrativa, porque vai que alguem, talvez, se lembre do programa e acrescente algo mais. Melhor ainda, quem sabe se alguem até por acaso tenha uma gravação, tipo cassette, de dois radialistas amadores, mas cheio de entusiasmo, que se anunciavam assim: “Radio Revista Estudantil” (voz do Neiton) “um programa de Neiton de Paiva Neves” (minha voz) “e Carlos Vanez” (voz do Neiton).

O prefixo era “A Summer Place” de Ray Conniff. Mas havia tambem, “Ci-ri-biri-bin”, “Tea for Two”, “Moonlight Serenade”, “Chega de Saudade”, e muitas outras musicas famosas entre os varios segmentos do nosso broadcasting ao vivo de “um show de variedades”, como desinibidamente nós nos designávamos.

Brevemente, aqui segue a historia de como surgiu o programa:

Logo depois de meu ja citado discurso “Brasilia: Sonho Imenso de Incontidas Quimeras”, fui recrutado por um rapaz de genio: Neiton de Paiva Neves, para colaborar estreitamente no seu programa: “Radio Revista Estudantil”.

Eu trouxe minha experiencia do Centro Academico Tristão de Atahyde, do Regina e a química entre Neiton e eu surtiu efeito.

Trabalhavamos sem ensaios, e nunca tivemos nenhuma gaffe no ar.

Gravado mesmo, somente a introducao, porque de vez em quando eu matava o Neiton do coracao ao chegar atrazado. Nós nao chegamos a virar Chitaozinho e Xororo, mas recebiamos cartas de ouvintes, e atraíamos até publico nos auditórios.

O Neiton, muito mais tarimbado e experiente, me dava corda e estimulava minha criatividade. Comecei uma seção de curiosidades. Outra sobre futebol, e é claro, cobria a MPB (musica popular brasileira). No final, todas as tres emissoras nos “contrataram”.

Faziamos tres versões do “programa dos estudantes” aos domingos: alem da PRJ-3 Rádio Araguari, tambem a Rádio Cacique e a Rádio Planalto começaram a nos transmitir. Os ouvintes gostavam do contraste. O Neiton, sempre sério e muito intelectual. Eu mais solto, num linguajar mais leve. Nós dois improvisavamos o texto a partir de fichas com lembretes. O forte do Neiton era a locução perfeita, o domínio da voz e pensamentos persuasivos sobre temas culturais: literatura, teatro, cinema.

Eu entrava com poesias, comentarios efusivos sobre o otimísmo reinante nos anos dourados, “bossa nova” Versus “musica antigas”, crônicas sentimentais, tipo dia das mães e romances desfeitos.

Faziamos perguntas um ao outro, sem ensaiar, e botávamos recortes de jornal debaixo do nariz alheio, de onde elaborávamos as respostas, na bucha, baseadas nas notícias. Evitávamos a todo custo a política, pois nao queríamos ofender a ninguem, nem da UDN nem do PSD.

Passavamos de uma serie de pilhérias, para algo mais serio, como o anúncio de um falecimento, através de uma música de transição adequada, que nós mesmos botávamos no prato de som, pra rodar. Aí adotávamos um tom funebre, na maior cara de páu. Depois do anuncio, o outro arrematava: “ARRE estende as suas condolências para toda a família e o grande círculo de amizades do finado.”

De vez em quando chegava o “contra-regra” da emissora, dizendo “o Odilon Neves atrasou, Voces tem que cobrir mais dez minutos no ar”. Era um Deus nos acuda. Alguém da Cacique ligava: “onde estao Voces?”. Ou eu saía ou ia o Neiton correndo, cruzando a praca Manoel Bonito, abrir o programa na outra emissora.

Dava tudo certo, a nao ser se o auditório estava cheio e a estudantada nos via entrar de surdina. Uma piada qualquer resolvia a coisa. Se o sol estava quente: a gente falava: “foi a chuva”. Ou entao dizíamos: “a Norma Benguel atrasou, ela vai chegar daqui a pouco”.

Uma vez o Benito Felice enviou o filho, Carlos Roberto, para nos raptar de um estúdio para o outro, porque tínhamos de tapar buraco maior.

Ao terminar tudo, cansados mas realizados, o lugar mais perto era o bar do Tadasso, entre a emissora e a Gazeta do Triangulo, onde eu e Neiton comíamos um cachorro quente e tomávamos um guarana.

Dali eu ia pra casa, escutar jogo do Corinthians, narrado pelo Fiore Giulioti, cuja divisão primorosa de frases e a enunciação da sílaba final sem engolir, eu procurava aprender. Oh que saudade que da, desta época tão boa!

Até mais,

Carlos Wanes."

e
Frank Sinatra - Ciribiribin

e
Nat King Cole - Tea For Two

e
Moonlight Serenade By The Glenn Miller Orchestra

e
Joao Gilberto Chega de Saudade

3 comentários:

Anônimo disse...

Que maravilha de vídeos, viajei na saudade... De tempos maravilhosos!
Abraços.
Teresa Cristina

Unknown disse...

Ai, que saudade do Carlos Wanes! Tantas cartas, muitos encontros! Saudade que dói!

Unknown disse...

Ai, que saudade do Carlos Wanes! Tantas cartas, muitos encontros! Muita saud
ade!