sábado, julho 05, 2008

DEVANEIO II

Caros Leitores.

Antes de iniciarmos este devaneio, voltaremos a matéria Ponte do Bethout, onde foi narrada uma história sobre a extinta Cia. Prada de Eletricidade.

Nesta omitimos não por esquecimento, mas por emoção onde nos perdendo nas recordações, o nome do braço direito de meu pai nas viagens pela Prada, o homem que onde ele ia, fazia questão de levá-lo por seus extensos conhecimentos técnicos.

Esteve em Ponta Grossa – PR, Santa Rita do Passa Quatro – SP, origem da Prada, Catalão, e veio constituir família aqui em Araguari.

Trata-se do saudoso senhor PEDRO TEIXEIRA, pai do nosso colega, amigo e irmão de Ordem Maçônica, Bartolomeu Teixeira. Nossa homenagem e nossos respeitos senhor Pedro Teixeira e sua distinta família.

Mas a vida é assim mesmo. Uns fazem parte da história, construíram algo, alguma coisa fizeram; outros estão fazendo a história, fazem algo, alguma coisa que será história, estão passando por ela, e muitos não conseguem entrar nela.

Para fazer parte da história, não se fere, não se agride, não se impõe. Basta fazer parte, os demais estão vendo. Quem vê guarda em sua memória para passar adiante no futuro e este futuro pode ser hoje.

Todos nós somos ou podemos ser parte da história. Simpáticos ou não, arrogantes ou não, irônicos ou não, e assim por diante.

Vejam um fragmento de história que resgatamos através de uma matéria publicada no jornal Estado de Minas, que, diga-se de passagem, está completando 80 anos em 2008 e conta desde então muitas histórias "de" e "para" nós mineiros.
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No do dia 20 de maio de 2001 ele ostentava garbosamente a foto da Estação Ferroviária de Araguari, a Estação da Goiás, com uma matéria da correspondente no Triângulo Mineiro Rute Rocha, que transcrevemos na íntegra:

PAISAGENS MINEIRAS – ARAGUARI – ESTAÇÃO FERROVIÁRIA SERÁ RESTAURADA.

“ Abandonada há anos, a antiga Estação Ferroviária de Goiás, deverá ser restaurada para abrigar os projetos culturais do município de Araguari, no Triângulo Mineiro.

O projeto de restauração já foi aprovado pelo Ministério da Cultura e, no ano passado, com patrocínio da CEMIG, o telhado foi reformado.

O restante da obra, que deverá consumir cerca de R$ 700 mil, ainda depende da captação de recursos, que está a cargo da Fundação Educacional e Cultural de Araguari (FUNEC).

O prédio principal da estação é considerado o edifício mais majestoso de Araguari. A Estrada de Ferro Goiás, foi construída em 1928, para atender as necessidades do governo federal de ligar a capital do Rio de Janeiro ao interior de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Bahia.

Em 1954, a sede da estação foi transferida para Goiânia, ficando em Araguari apenas a sub-sede que, três anos depois, foi incorporada pela Rede Feroviária Federal.

Em 1973, o tráfego ferroviário foi transferido para um novo terminal e, desde então, o prédio principal da estação que hoje pertence à Prefeitura, está abandonado.

Apesar dos tapumes e trancas nos portões, o prédio tem sido indevidamente usado por andarilhos e mendigos. Tantos anos de abandono, o deixaram em situação bastante precária.

Enquanto a FUNEC tenta conseguir recursos para o projeto de restauração, a Prefeitura tenta viabilizar um mutirão para fazer a limpeza da Estação Ferroviária e protege-la da ação de vândalos. O prédio foi tombado pelo Patrimônio Histórico Municipal em 1989.”
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Felizmente hoje temos a antiga estação da Goiás toda restaurada, engrandecendo a imagem de Araguari pelo mundo. A mesma já foi exibida na abertura do programa de entrevistas do Jô Soares e circula pela internet em emails com fotografias de prédios de diferentes lugares do mundo.


Tudo isto como sempre nos faz voltar ao passado, e o nosso passado, desta feita começa em 1960, quando iniciamos nossa vida profissional entregando contas de energia, e quando cabia a nossa pessoa, o setor do alto da estação.

Vibrávamos pelo fato de irmos até aquele majestoso, movimentado prédio da estação ferroviária, entregarmos de seção em seção, as contas de energia correspondentes, e em todas, tínhamos já nosso círculo de amizades, e o prazer deles, os ferroviários, era o de nos mostrar as instalações, como funcionava cada área, cada escritório, suas finalidades.

Já na parte das oficinas, tínhamos contato direto com pessoas que amam aquele local, como exemplo, saudoso Mário Nunes, Alaor Puga, a saudosa Elena Bittencourt Zamboni, Arcênio Paranhos Lopes, Fausto Tomaz, Wilian Dickson dos Santos Braga, seu pai, o senhor Idalírio Braga (saudosa memória), senhor Godofredo Tilman (saudosa memória) e outros, vários outros, que fizeram aquela coisa espetacular funcionar.

E lá estávamos nós, circulando por todos os lados. Vendo a reforma de vagões nas oficinas, a construção de auto motrizes, pequenos vagonetes com um motor de automóvel no centro, um câmbio e que não era necessário manobras para virá-las, bastava inverter a alavanca de câmbio para o outro lado e pronto.

A estrada de ferro, seu leito, para os que não sabem, ficava onde hoje é a movimentada Av. Batalhão Mauá, indo até lá embaixo, no Bairro Santa Helena, nas casas feitas pela Gutierrez.

A estrada vinha de São Paulo, era o ponto final da Cia. Mogiana de Estradas de Ferro, onde fica o trevo da rua Marciano Santos com a Praça da Constituição. Tinha a velha estação (infelizmente demolida) e o início da Estrada de Ferro Goiás.

Viram vocês pela matéria do Estado de Minas, que em 1954, Araguari passou a ser sub-sede, e mesmo assim, as oficinas funcionavam.

Haviam mais de 500 funcionários, ferroviários que amavam a profissão e se orgulhavam, assim como se orgulham, pois aqueles altos da cidade, recebeu o nome de Bairro Goiás, em homenagem aos ferroviários. Sobre esse tema também já falamos no ponto de vista Sirene da Goiás de 01/03/08.
http://peron-erbetta.blogspot.com/2008/03/sirene-da-gois.html

O Major Antônio Carlos Zamitti, diretor da Estrada nas décadas de 40 e 50, quase em seu final, tendo sido inclusive candidato a Prefeito de Araguari nas espetaculares disputas entre o PSD (Partido Social Democrático) e a UDN (União Democrática Nacional), os partidos da época.

Ele mandou construir nos fundos das oficinas, em terreno da ferrovia, uma vila de casas para os ferroviários, casas estas que estão lá até hoje.

Verdadeiras relíquias de uma Araguari antiga, casas estas que formaram ruas e estas ruas receberam os nomes das profissões ferroviárias como:

. Rua dos Portadores eram os que faziam os transporte das correspondências e outros documentos valiosos.

. Rua dos Foguistas, ferroviários que colocavam lenha nas caldeiras das locomotivas a vapor, posteriormente carvão.

. Rua dos Tatus, eram os ferroviários que trabalhavam no leito das linhas férreas, faziam sua manutenção, trocavam dormentes, trilhos etc.

. Rua dos Limpadores, em homenagem aos ferroviários que trabalhavam na manutenção, e lubrificação dos eixos dos vagões, verificavam se as rodas de ferro, molas estavam perfeitas.


Existe até uma piada de uma criança que chegou perto de um ferroviário que batia um martelo de ferro na roda também de ferro, para ver pelo som da batida, se a roda não estava trincada.

Foi interpelado por uma criança de 6 anos perguntando a ele: por que o senhor faz isto ? Ao que ele respondeu, sai para lá menino. Eu faço isto há 30 anos e não sei para que, você com 6 anos já quer saber ? (Esta nos foi contada pelo Mestre da Escola Profissional da Goiás, Arcênio Paranhos Lopes, assim como vários detalhes desta narrativa).

Arcênio Paranhos Lopes, mencionamos aqui com grande orgulho. Foi aluno da Escola Profissional Ferroviária, e posteriormente passou a ser seu professor. Encaminhou muitos e muitos jovens para profissões diversas por este Brasil a fora. Um grande ferroviário, um grande Maçom. Orgulhamo-nos de ser seu irmão de Ordem Maçônica. Um homem exemplar.

Não poderíamos aqui deixar de citar dois detalhes importantíssimos. O primeiro, o grande Hospital Ferroviário, que pertencia à rede. Seu prédio é um espetáculo e de grande utilidade.


Na época, grandes médicos araguarinos se esmeravam para atender a família ferroviária. Havia disputa para se conseguir um lugar para o corpo clínico, cirúrgico, RX e atendimentos de emergência. Quem por lá passou ficou famoso, fez carreira.

O segundo trata-se da Praça dos Ferroviários. Orgulho não só deles, os ferroviários, mas de toda Araguari.

Conforme Arcênio Paranhos Lopes, Mario Nunes, Alaor Puga e outros expoentes da Estrada de Ferro Goiás, a praça só ficou completa, quando recebeu em seus canteiros, a locomotiva símbolo da ferrovia.

Orgulho dos ferroviários. Lá estão Hospital Ferroviário, Praça dos Ferroviários e a Locomotiva Símbolo dos Ferroviários.

Famílias ferroviárias, vocês são simpáticas e queridas por todos os araguarinos. Obrigado por tudo que fizeram por nós.

Os três grandes engenheiros da Estrada de Ferro Goiás, Gaioso Neves, Luiz Schnoor e Bethout, construíram a sede, a estrada e as pontes. História de Araguari. História de um povo.

Conforme já abordamos no ponto de vista Que Bela Visita de 30/06/06, lembramos o fato de existir no prédio da estação um trabalho muito bem feito e que merece ser visto e reconhecido, um museu com fotos, objetos e textos que perpetuam memórias como estas narradas aqui.
http://peron-erbetta.blogspot.com/2006/06/que-bela-visita.html

Caros Leitores é isto aí. Tentamos passar para vocês um pouquinho deste bairro e deste povo maravilhoso que nele vive. O Bairro Goiás.

Uma pequena história da Estrada de Ferro. Devemos ter cometido falhas, erros, enganos. Caso isto tenha ocorrido, comuniquem-se conosco, que com o maior prazer ouviremos a narração e inseriremos na próxima matéria.

Ajudem-nos naquilo que puderem, pois estarão ajudando nossa história. Receberemos com muita alegria.
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Vista de Araguari da torre do prédio da estação

Obrigado caros leitores, sem vocês não realizamos nada.

Era o que tínhamos.
Que Deus nos abençoe.
Um abraço.

Fotos: Fernando P. Martins / Arquivo pessoal / Google

3 comentários:

Anônimo disse...

Obrigado, Peron.
Gosto da matéria. Foi no Bairro Goiás que minha família morou no primeiro ano de Araguari. Eu fui coroinha do Frei Demétrio na capela do Hospital Ferroviário durante alguns anos.

Sempre me pergunto como você mantém tanta informação sobre todos.

Um abraço. Fique com Deus.

Rosalvo

Ponto de Vista disse...

Rosalvo grande amigo.
É gratificange vermos que agradamos nossos leitores com o conteúdo de nossas matérias.
Imaginamos você coroinha do Frei Demétrio lá na capela do hospital.
Para seu governo, fomos operados em 1962 pelo Dr. Belisário lá no hospital Ferroviário. Éramos funcionários da Prada, e filiados ao IAPFESP, hoje INSS. Ele atendia os institutos de então.
Tempos idos, tempos vividos.
Gratos pela mensagem. Abraços. Peron Erbetta.

Ponto de Vista disse...

Rosalvo grande amigo.
É gratificange vermos que agradamos nossos leitores com o conteúdo de nossas matérias.
Imaginamos você coroinha do Frei Demétrio lá na capela do hospital.
Para seu governo, fomos operados em 1962 pelo Dr. Belisário lá no hospital Ferroviário. Éramos funcionários da Prada, e filiados ao IAPFESP, hoje INSS. Ele atendia os institutos de então.
Tempos idos, tempos vividos.
Gratos pela mensagem. Abraços. Peron Erbetta.