sábado, novembro 15, 2008

DEVANEIO VI

Caros Leitores.

Tempos atrás, em um sábado pela manhã, estávamos estacionado bem defronte ao Unibanco, e dentro do carro, ouvindo músicas, viajando no tempo e no espaço.


Passou por nós e bateu em nosso braço o Niltinho do extinto banco Nacional (o Nilton de Oliveira, hoje na Casa da Picanha), aposentado do Unibanco, banco esse que adquiriu Nacional.

O Nilton é conhecido de todos, grande pessoa, o mesmo disse: Peron, você deve estar lá na década de 60, dando uma volta por este quarteirão da Ruy Barbosa, matando saudades e bolando alguma matéria para o “nosso” Ponto de Vista.

Aquele alerta, aquele cumprimento repentino, nos tirou da longa viagem que estávamos realmente fazendo pelo tempo lá naquele quarteirão.

Então dissemos a ele: tens razão caro amigo, estamos lá em 1958. Justamente aqui neste lugar, vendo no local do Unibanco, o prédio construído e que fora a residência do Dr. Alcino Santos Laureano em tempos idos.


Mas quando de nosso devaneio, abrigava a LAF, Liga Araguarina de Futebol, e a escola de Datilografia Remington, da Professora Latifa Cafrune, a quem carinhosamente, dedicamos este Ponto de Vista de hoje. “Em homenagem Póstuma”.

Como exposto no início do Ponto de Vista, vamos tentar aqui, dar uma posição da Ruy Barbosa, trecho compreendido entre a Rua Marciano Santos, e a Afonso Pena.



Iremos divagar e devagar no tempo neste quarteirão, porque temos muito assunto para explanar, e se fôssemos falar a respeito da rua toda, o blog seria pequeno e escrever e agradar aos leitores é maravilhoso.

Antes uma dica, levantem cedo, pois de acordo estudos científicos, nosso cérebro, nossa massa cinzenta, funciona a todo vapor das 4 as 8 horas da madruga, pois neste horário, a pessoa regrada, já dormiu o suficiente, e o silêncio da hora propicia maiores concentrações para criações de grandes obras e resoluções de grandes problemas.

Personagens da literatura, da música e inventores da história, tiveram seus momentos de inspirações e glórias, nestas horas silenciosas e serenas.

Mas deixando isto, vamos , vamos para a Escola de Datilografia Remington, da querida Latifa Cafrune.

Como dissemos, em 1958, tínhamos já nossos 15 anos, e estávamos ávidos para aprender coisas.

Dentre elas, queríamos aprender datilografia, poder trabalhar em escritórios, ganhar um dinheiro extra e nos tornar independente.

Fomos então lá onde hoje é o Unibanco, era a antiga mansão do Dr. Amilcar Santos Laureano, agora transformada em comércio.

Tinha um grande movimento por funcionar nela a Liga Araguarina de Futebol, e os times de Araguari estavam no auge da fama, disputando maravilhosas e inesquecíveis partidas com times da região e quando da final de campeonatos. O campeão trazia times de São Paulo ou do Rio para fazerem jogos comemorativos.

Voltando lá na datilografia, entramos no salão onde funcionava a escola, e nos encontramos com a Latifa.

Muito atenciosa, expusemos a ela, nossa vontade de aprender datilografia, e ela prontamente nos garantiu que em 90 dias, estaríamos formados e diplomados como datilógrafo e aptos a nos candidatar a qualquer emprego junto a bancos, escritórios de contabilidade, ou qualquer lugar onde a datilografia fosse necessária.

Isto dito, mais que depressa, nos matriculamos e passamos a ter aulas diariamente, das 10 as 11 horas, o único horário disponível que ela tinha, considerando que todos, mas todos rapazes e moças, necessitavam aprender a datilografia, “a informática da época”.

Um detalhe estava nas férias de fim de ano, e naquele tempo, as férias eram de três meses, o que nos propiciava estudar de manhã. Tínhamos então que correr, senão não dava tempo para fazer o curso.



A Latifa tinha 10 máquinas de datilografia, como o nome da escola indicava, todas Remington. Eram do tempo da 2ª Guerra. Tinham pouco recurso, ou melhor, apenas escreviam o datilografado, hoje fala-se “digitado”.

Lembramo-nos como se hoje fosse, a Latifa nos deu a mais antiga máquina (as mais novas eram para os que já estavam do meio do curso para o final).



Ensinou-nos a colocar o papel, sendo que um era usado como “forro” do principal, e tirou nossa graça quando colocou uma tampa de lata encaixada na máquina, cobrindo todo o teclado. Aí foi uma tristeza. Como bater o “a,s,d,f,g” sem ver as teclas.

Achamos na época que daquele jeito iríamos levar um ano e não três meses para aprender datilografia.

Mas não, logo fomos nos adaptando, e logo, mas logo mesmo, já estávamos usando as máquinas mais novas, datilografando modelos de ofícios, copiando textos, criando cabeçalhos e tipos que eram montados com os parcos recursos das antigas Remingtons.

Cremos nós, que todos os contadores, datilógrafos e outros do ramo mais antigos, passaram pelas mãos da Latifa, que após muitos anos lá no local citado, com a venda do mesmo para o Banco Nacional, em 1964, passou para o prédio da esquina da Ruy Barbosa com a Rodolfo Paixão, do senhor Lousencourt Brasil (o pai dos saudosos Lélio e Ivan Brasil), ficando por tempos no cômodo comercial da Rodolfo Paixão.



Depois, a Latifa, foi com sua escola lá para a Afonso Pena, num dos cômodos existentes abaixo de hoje casas comerciais, antigo Cinema, Rodoviária, Rádio Planalto.



Seu movimento era grande, a sala ficou pequena novamente.

Precisou mudar novamente, desta feita indo lá para a Rodolfo Paixão, abaixo da Rio Branco, no prédio do Durval e Moisés, onde funcionou o escritório de contabilidade do Ronan Barbosa.

Mas a Latifa não parava. Seu movimento sempre grande, já tinha umas vinte máquinas de escrever, modernas, da época. Mudou então para a esquina da Tiradentes com a Afonso Pena, ali, onde hoje é uma loja de colchões.



Latifa Cafrune ensinou a arte da datilografia por 32 anos, dotando grande parte dos datilógrafos araguarinos deste saber, saber que quem com ela aprendeu, aprendeu no mais perfeito e correto método de escrever.

Em 1978, já cansada, passou a responsabilidade da escola para a competente Vera Lúcia Silva, que abraçou com carinho a arte de continuar ensinando e mantendo a escola em funcionamento dentro dos padrões exigidos.

Vera então, levou a escola, para o prédio da “dona” Tonica, saudosa Antonia de Carvalho Barbosa, na rua Afonso Pena, abaixo da Rio Branco, onde funcionava antigamente o externato da “Dona Tonica”, o “São José”.

Vera, ficou ali por vários anos, indo finalmente para a rua Mj. Joaquim Magalhães, 63, no prédio da senhora Maria Salviano, onde encerrou as atividades da mais famosa e eficiente escola de datilografia de Araguari.

A “Escola de Datilografia Remington”, que formou e encaminhou podemos dizer metade dos profissionais que usam a datilografia em Araguari. Latifa aposentou-se com 32 anos de profissão, e Vera, trabalhou junto e posteriormente continuou a obra de Latifa por 22 longos e produtivos anos.

A escola teve 55 anos de atividades de invejáveis trabalhos. Dignificou o nome de ambas. Os araguarinos agradecem de coração.

Nós, particularmente, temos a dizer: obrigado Latifa, muito obrigado mesmo, por ter-nos ensinado esta nobre arte da datilografia.

Não só a nós, mas aos nossos filhos, Julio e Fernando, estes já nas mãos da Vera, que os tornou aptos a exercerem dentro de suas profissões, o uso de um teclado.

Diga-se de passagem: quem não precisa saber um pouco sobre datilografia?

Este Ponto de Vista é especial para Latifa e Vera, que militaram e fizeram muito por Araguari. Merecem ser reconhecidas.

Lembramos com alegria de um encontro que ocorreu tempos atrás lá na Gazeta do Triângulo, quando juntos, Afif Rady, o braço direito do Afif, Sonilva Costa Ribeiro, a Vera Lúcia Rosa, a Latifa Cafrune e nossa pessoa, lembramos o passado, comentamos assuntos vários, pitorescos.

Não somos só nós que agradecemos. É uma Araguari inteira através de nosso Ponto de Vista.

Latifa Cafrune faleceu em 2002 que Deus a tenha em seu convívio.

Falando em máquina Remington, trabalhamos muito e temos guardada em nossa casa, a velha e cansada máquina de escrever que foi do nosso saudoso sogro, que junto com a máquina de calcular Mercedes foram suas ferramentas de trabalho como contador da Casa Arantes, Augusto Costa e Cia., Pneus Triângulo, Casa Márcia, Antônio Sardelli.



O senhor Amador Rezende, era da Irmandade do Santíssimo, aquele que puxava todas as procissões, carregando a Cruz no centro da rua.

Faleceu aos 92 anos de idade. Foi um baluarte para os empresários araguarinos, um orgulho para sua família, sempre com a nossa saudosa sogra Andreína Alvim Rezende, a “dona Zica”, ao seu lado, dando-lhe forças na criação da grande família que constituiu.

Um detalhe, “seu Amador”, foi um daqueles que para sustentar seus 8 filhos, dando-lhes inclusive cursos superiores em Ouro Preto e São Carlos, levantava as 4 horas da madrugada para colocar os serviços em dia, isto quando não varava a noite trabalhando.



Soube usar a cabeça, vencendo na vida com dignidade, nunca ferindo ou magoando alguém.

Mas voltando lá no quarteirão da Ruy Barbosa, entre a Rodolfo Paixão e Afonso Pena, não poderíamos deixar aqui de citar lá na década de 60, em auge de sua existência, o grande movimento que possuía.

e

O Banco Nacional funcionando lá no prédio do saudoso Dr. Farid Abud, com aquelas portas de ferro, trabalhadas em esculturas e reforçadas, por ser um banco.

e
Quando foram retirar o cofre de lá para levá-lo onde hoje é o Unibanco, em 1965, foi preciso o guindaste da Goiás emprestado, aquele de levantar vagões descarrilhados, dado seu tamanho e peso.




Do Bazar da China, do saudoso Antônio Thomé, tinha de tudo nele. Calçados, roupas feitas, armarinhos, chapéus, tecidos em geral, roupas femininas, ou seja, era um verdadeiro Bazar da China.

A Casa Paratodos, só calçados, dos irmãos Amaro, José Amaro de Oliveira, o Juca Amaro, saudosas memórias, e Samuel Amaro de Oliveira, ex-combatente da FEB, na 2ª Grande Guerra. Ambos nossos irmãos de Ordem Maçônica. Atendiam a todos com presteza.

Ficava ali, na esquina da Afonso Pena, hoje centro comercial. Ao lado, a Loja do senhor Samir Dau. Roupas finas para homens.

O Banco da Lavoura que funcionava na rua Rio Branco, lá no prédio do Dr. Jofre Alamy, onde depois foi a Sapataria Gato Preto e hoje é uma imobiliária, e uma loja de festas infantis.





Comprou as casas antigas ao lado da Imperial do Samir, demolindo-as e construindo o prédio com frente para a Ruy Barbosa e Rio Branco.





Lá funcionou o Banco da Lavoura que posteriormente passou para Banco Real, funcionando no local citado, onde hoje é casa de móveis, até a construção do prédio onde se encontra atualmente na Av. Tiradentes.



Mais um detalhe: para a construção do prédio na Av. Tiradentes, foi demolido o majestoso sobrado do Cel. Marciano Santo, sendo defronte, onde foi o Relicário, a residência construída pelo Dr. José Jehovah Santos.



Todas suas janelas e portas eram com vidros coloridos e importados do Japão. Lá foi também Delegacia de Polícia, pensão, quando o saudoso Marinho Bittencourt comprou o imóvel, reformou-o e mudou-se para ele.

Posteriormente o vendeu para o banco Real, quando foram demolidos. Seriam hoje, marcos históricos cultural de nossa cidade).

O sobrado do Dr. Farid, na esquina, ao lado de onde hoje é a padaria, funcionava a finíssima loja “A Continental” do senhor Francisco Veloso, irmão do também empresário e político Teodoreto Veloso de Carvalho, ambos de saudosas memórias.

Ainda tinha o bar do Arédio, com um PF (prato feito) sempre quentinho para a turma que aos sábados iam pelas noites a dentro em bailes lá na “Boite Cairo” do senhor João Rugiadini, com sua senhora, dona Cristina e seu filho Roni.

“Seu João”, era o responsável pela programação cinematográfica e todo o visual do Cine Rex. Exposição dos cartazes dos filmes a serem exibidos, arranjos aconchegantes para os freqüentadores, e o nosso Hermínio Carraro, o responsável pela parte técnica do Rex respeito.

Bem defronte a escola da Latifa, hoje Unibanco, o restaurante do senhor Vilazito. Uma comida gostosa, e ele, o senhor Vilazito, sempre de terno e gravata, atendendo a clientela que era grande, dado a variedade de comida oferecida aos freqüentadores.

Ao lado, tínhamos o Rei dos Móveis. Geraldo Gomide Borges. Era uma grande loja de móveis. Móveis para todos os gostos e poses. Um grande comerciante. Deixou saudades.

E o Bazar Eduardo da senhora Zani Assunção Alencar. Roupas para crianças, bijuterias, luvas e variedades outras.




Na esquina, onde hoje do Brasil Cruvinel, sempre a farmácia, na época, do saudoso senhor Homero Amaral.





Antes de ser farmácia, foi a sorveteria do senhor José Marques de Jesus, ponto de encontro das famílias araguarinas, assim como também, a sorveteria dos Merolas, do Francisco Merola. Era defronte a Latifa.




Então é isto aí caros Leitores. Este quarteirão da Ruy Barbosa, assim como ela toda, contém histórias maravilhosas. Histórias marcantes.



Em um próximo Devaneio, iremos comentar e relembrar fatos, coisas acontecidas no restante da Ruy Barbosa, assim como em nossa querida e amada Araguari.

Por hoje, ficamos com nossa homenagem a Latifa Cafrune, e um pouquinho do muito que este quarteirão significa para nós araguarinos.

Gostaríamos de expressar aqui, nossos mais sinceros e profundos agradecimentos ao radialista, comentarista, historiador, Odilon Neves.

Gentilmente, prestou-nos uma homenagem em seu programa de grande audiência, destacando-nos e enaltecendo.

Caro Odilon, você sabe que não somos merecedores de tanta benevolência por sua parte, mas seu coração generoso achou por bem nos destacar.

Agradecemos muitíssimo. Somente procuramos retribuir a Araguari e aos araguarinos,

Obrigado a todos pelo carinho que nos dedicam.

Era o que tínhamos.
Que Deus nos abençoe.
Um abraço.

Fotos: P&B Antônio Gebhardt / Coloridas arquivo pessoal

4 comentários:

Alessandre Campos disse...

Olá Peron,

Mais uma vez bebemos da fonte de sua memória histórica que traz: a alguns lembranças e a nós outros formação a cerca de nossa Araguari.

Eu fui aluno da Vera nos anos 80. Ela tinha fama de exigente e brava. Uma excelente educadora que continua seu ofício ministrando aulas voluntárias no Educandário Espírita Euripides Barsanulfo.

Muito obrigado mais uma vez por nos proporcionar esse encontro com nosso Patrimonio Cultural Imaterial.

Abraço e fique na paz!

Alessandre H. de Campos
arquiteto e urbanista
Presidente do Conselho Deliberativo Municipal de Patrimônio Histórico e Cultural de Araguari.

Anônimo disse...

Estimado Peron:

Mais uma vez você nos surpreende, contando histórias de " nosso tempo " passado.
A Latife foi minha prima em segundo grau,pois sua Mãe era irmã de meu Avô, Yussef Rady.
Um segredo: durante toda sua Vida a Latife foi a " namorada " de meu Tio Afif, que sempre escapava do casamento na hora que ela o apertava. O motivo era que o Tio Afif quería formar seus irmãos Domingos, Jorge e Michel, e a mim, por ser seu primeiro sobrinho.
Sòmente o Michel não quiz se formar em um curso superior, pois escolheu ser comerciante, e o foi com muito sucesso.
Muito obrigado por reavivar essas gratas lembranças.
Wiliam.
P.S.: No proximo dia 29 nos encontraremos em sua casa, quando poderei rever o Zé Pauli, seu cunhado e meu ex-colega no Regina Pacis, e que não vejo há mais de 50 anos. Haja coração !

Anônimo disse...

Como é bom caminharmos pelas ruas de Araguari, como uma volta ao tempo... E sobre a Escola de Datilografia, com certeza, foi um marco para todos que tinham que trabalhar em escritório. Quem aprendeu a datilografar sem olhar o teclado, com certeza, até com a mudança para máquinas elétricas e depois computador, continuou tempo a agilidade aprendida inicialmente na máquina manual. Principalmente tendo estudado na Escola de Datilografia Remington.

Aristeu disse...

É isso aí, Peron, um texto maravilhoso. O que mais sei fazer de bem na minha vida é digitar e tal foi aprendido com a Latifa. Ainda tenho o diploma com a nota 100, assinado por ela e, ela, era muito rígida pra dar nota. A sala dela era na esquina bem em frente à Gazeta do Triângulo. Confesso que não tinha dinheiro pra concluir o curso, mas fui apadrinhado por uma família palestina. Ainda me lembro de umas traquinagens que alguns colegas meus do Raul Soares faziam com ela. Eles pegavam bombinhas e colocavam tocos de cigarros acesos no estopim. Jogavam dentro da sala e afastavam à uma boa distância pra caírem na gargalhada. Coitados de uns outros meninos que estivessem passando por ali, pois a culpa ficava neles. Algum tempo depois, no Bar do Bolinha, conheci um irmão dela, o Neif, famoso por ter uma mesma namorada por mais de trinta anos, mas isto é uma outra estória...

Aristeu